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A tradição centenária da Fábrica de Chapéus Zanon em Cantagalo

A cidade de Cantagalo, localizada no interior do estado do Rio de Janeiro, carrega uma tradição centenária que se mantém viva até os dias de hoje graças ao trabalho e dedicação de uma única família. Em Santa Rita da Floresta, segundo distrito de Cantagalo, a Fábrica de Chapéus Zanon, fundada em 1920, continua a produzir chapéus de palha com um toque artesanal único. O local, atualmente administrado por Bruno Zanon, mantém viva uma história de mais de 100 anos, que remonta à chegada dos imigrantes italianos Guglielmo Zanon e Concheta Andreatta Zanon, responsáveis pela fundação da fábrica.

A tradição da fabricação de chapéus de palha começou com Guglielmo Zanon, que, no início do século XX, instalou-se na região de Santa Rita da Floresta. Com o passar dos anos, a fábrica se especializou na produção de chapéus que adornaram as fantasias das escolas de samba do Rio de Janeiro, além de serem demandados por escolas de samba locais e de municípios vizinhos. Em média, 30 mil chapéus são produzidos anualmente, principalmente para o setor carnavalesco.

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A Chapéus Zanon leva o legado de várias gerações. Imagens da TV Manchete no início dos anos 80.

Hoje, a fábrica continua a produzir chapéus feitos de palha de carnaúba, um material que é trazido do Ceará para ser transformado em artesanato de qualidade. Os chapéus de Bruno Zanon já marcaram presença em grandes eventos, como a abertura dos Jogos Panamericanos de 2007, no Rio de Janeiro, e até mesmo em produções televisivas como as novelas “O Clone” e “O Quinto dos Infernos”, da Rede Globo.

Bruno Zanon, que cresceu aprendendo a arte da trançagem de palha com seu pai, Romeu Zanon, é o único a manter viva a tradição. Seu trabalho é um legado de família que atravessa gerações e preserva uma das últimas fábricas de chapéus artesanais do Estado. A fábrica, que funciona nos fundos de sua casa, emprega sua esposa, filho e uma funcionária, e além dos tradicionais chapéus para escolas de samba, também é conhecida por criar chapéus customizados e exclusivos, como o “coquinho simples”, uma peça que, segundo Bruno, não pode ser encontrada em nenhuma outra parte do estado.

Outro aspecto curioso da história da Fábrica Zanon é a prática da “transista” ou “transadeira”, uma técnica de trançado da palha que, no passado, era uma marca registrada do pacato distrito Santa Rita da Floresta. No final da tarde, era comum ver moradores sentados à porta de suas casas, trançando a palha para a confecção dos chapéus, uma prática que se perdeu com o tempo, mas que, felizmente, ainda se mantém viva no trabalho de Bruno Zanon.

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A tradição de mais de 100 anos dos chapéus de palha fabricados em Santa Rita da Floresta. Imagens da TV Manchete no início dos anos 80.

As máquinas de costura usadas na fábrica são relíquias do início do século XX, herdadas dos avós italianos, e continuam a ser fundamentais na produção artesanal dos chapéus. Em um cenário em que muitas tradições se perdem, o trabalho de Bruno Zanon, que carrega com orgulho o legado de sua família, é um exemplo de resistência e dedicação, e contribui para manter acesa uma parte importante da história de Cantagalo e da cultura popular do Rio de Janeiro.

Com mais de 100 anos de história, a Fábrica de Chapéus Zanon permanece como um testemunho do esforço e do talento de imigrantes italianos que, há mais de um século, chegaram ao Brasil e, com suas mãos, construíram uma tradição que perdura até hoje. A história da fábrica é um símbolo de perseverança e paixão pela arte, e Bruno Zanon, como herdeiro dessa rica trajetória, continua a entregar ao mundo um pedacinho de história em cada chapéu produzido.

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