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Festa do Inhame em Rio Bonito de Lumiar

A celebração da colheita do trigo, do milho ou de qualquer outro produto agrícola faz parte da tradição camponesa. Em Rio Bonito, localidade do distrito de Lumiar celebra-se a colheita do inhame no primeiro sábado de agosto. De origem africana, o inhame foi trazido pelos colonizadores portugueses nos tumbeiros que transportavam escravizados deste continente. Rio Bonito fazia parte da região conhecida no passado como “Inhames” e diversas famílias colonas suíças se mudaram para esta localidade como os Ouverney, Monnerat, Perrier, Perroud, Musy, Bohrer, Moser, entre outras.

Cavalheiros que se intitulam muleiros percorrem as ruas do vilarejo. Acervo pessoal
Cavalheiros que se intitulam muleiros percorrem as ruas do vilarejo. Acervo pessoal

Além de Rio Bonito, o distrito de Lumiar possui as localidades de Cabeceiras, Galdinópolis, Macaé de Cima, Santiago, Ribeirão das Voltas, Boa Esperança e Toca da Onça. Atualmente com aproximadamente 400 moradores, possivelmente o pequeno povoado de Rio Bonito se formou por ter sido rancho de tropeiros. A extração de madeira foi a primeira atividade econômica deste povoado. Após a derrubada da mata, os lavradores voltaram suas atividades para a agricultura, principalmente na plantação de inhame.

Apresentação de crianças da localidade durante a festa. Acervo pessoal
Apresentação de crianças da localidade durante a festa. Acervo pessoal

Entrevistei o ex tropeiro Luiz Ramiro Ouverney, nascido em Macaé de Cima na fazenda Bom Retiro. O seu pai Luiz Muniz Ouverney tinha uma tropa de 4 mulas. Mudou-se para Rio Bonito ainda criança com a família e na propriedade de seu pai havia um engenho de cana no qual fabricavam açúcar mascavo, rapadura, melado e também faziam manteiga. Ajudando o pai recorda-se que a tropa de burros levava aproximadamente 7 horas até o centro de Nova Friburgo (RJ). No retorno ao povoado levavam o mesmo tempo. Transportavam inhame, fubá, mel, melado de cana, manteiga enrolada em folhas de caeté e ovos para vender na cidade. Ali compravam arroz, macarrão e sal. Feijão, mandioca e milho tinham lavoura.

O ex tropeiro Luiz Ramiro Ouverney, morador de Rio Bonito. Acervo pessoal
O ex tropeiro Luiz Ramiro Ouverney, morador de Rio Bonito. Acervo pessoal

Quando o rio Macaé estava muito cheio em razão das chuvas não viajavam, pois não podiam atravessá-lo com a mulas. Caso chovesse quando estivessem na cidade, de acordo com o sr. Ramiro Ouverney “a gente subia por uma estradinha que tinha pra beiro da rio [Macaé], pegava a ponte velha lá na cabeceira perto do hotel São João pra atravessar pra entrar pra dentro de Rio Bonito”. Com isto se atrasava quase duas horas na viagem. Chegavam em casa entre meia-noite e duas horas da manhã.

O vilarejo é encantador, com um casario de aspecto colonial. Acervo pessoal
O vilarejo é encantador, com um casario de aspecto colonial. Acervo pessoal

O interesse dos cariocas pela compra dos sítios dos lavradores de Rio Bonito de Lumiar, notadamente no “Sertão”, alterou o perfil da localidade. A venda foi vantajosa pois a labuta na lavoura era árdua e ainda foram mantidos como caseiros. Dinheiro na poupança e um salário fixo significou algo que nunca experimentaram antes, diante da incerteza da colheita. Logo, pequenas unidades de produção agrícola se transformaram em estância de veraneio. Porém, alguns permaneceram no amanho da terra se dedicando a tradição do plantio do inhame. A agricultura em Lumiar nas últimas décadas ficou limitada em razão de ser uma APA, Área de Proteção Ambiental de Macaé de Cima.

Plantação de inhame em Rio Bonito de Lumiar. Acervo pessoal
Plantação de inhame em Rio Bonito de Lumiar. Acervo pessoal

O carnaval de Rio Bonito de Lumiar é dos eventos mais espetaculares. No sábado e no domingo os foliões da localidade saem por volta de 9h da noite com fantasias exóticas utilizando elementos da natureza como folhagens, ramos e galhos secos. Os foliões vão ao mato nos arredores à cata destes materiais. Não criam as fantasias antes, mas as elaboram a partir do que encontram nas cercanias. A pilhéria é se vestir de tal forma que o folião não seja reconhecido usando voz em falsete. Provavelmente a fantasia com elementos da natureza advém dos trajos que os camponeses europeus usavam para trabalhar no campo nos dias chuvosos.

Foliões no carnaval de Rio Bonito de Lumiar. Acervo pessoal
Foliões no carnaval de Rio Bonito de Lumiar. Acervo pessoal

Fui a Festa do Inhame na semana passada em Rio Bonito de Lumiar. O acesso à esta localidade, em razão de trechos não pavimentados, torna o percurso mais longo partindo do centro da cidade. Mas a belíssima paisagem compensa. O vilarejo é encantador, com um casario de aspecto colonial e os moradores são muito acolhedores. As barracas começam a vender os produtos a partir das 13h. Cavalheiros que se intitulam “muleiros” percorrem o tempo todo as ruas do vilarejo tornando-o ainda mais charmoso. À noite existem atrações musicais e tudo corre muito animado. Sugiro apenas à Associação de Moradores e Produtores de Rio Bonito que exijam que todas as barracas vendam guloseimas que tenham na sua composição o inhame.

Inhame com costela foi uma das iguarias oferecidas na festa. Acervo pessoal
Inhame com costela foi uma das iguarias oferecidas na festa. Acervo pessoal

O distrito de Barra Alegre, no município de Bom Jardim, que faz divisa com Rio Bonito de Lumiar também promove a Festa do Inhame. Os moradores do vilarejo de Santo Antônio elaboraram um caderno de receitas de iguarias feitas com inhame como nhoque de inhame, coxinha de inhame, pão de inhame, broa e bolo de inhame, pão caseiro de inhame, sorvete de inhame com manga e gengibre, pudim de inhame com coco, beijinho de inhame, brigadeiro de inhame, etc. Na zona rural, além dos “dedos” aproveita-se igualmente a “cabeça” do inhame para fazer a tradicional broa de milho com legumes crus. No ano seguinte, vale a pena conhecer a Festa do Inhame em Rio Bonito de Lumiar e vivenciar a atmosfera rural da localidade.

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