A Pedagogia da Alternância aplicada em Nova Friburgo
O município de Nova Friburgo (RJ), ainda que apresentando um expressivo parque industrial, bem como um acelerado crescimento urbano desde meados do século passado, de seus oito distritos, seis são rurais. O mais importante distrito agrícola é Campo do Coelho, banhado pela bacia do rio Grande. Esta região produz olerícolas como chuchu, berinjela, jiló, pimentão, abobrinha, tomate, repolho, brócolis, alface, salsinha, cebolinha, entre outras. É o maior produtor de couve-flor na América Latina. No passado, essa região era conhecida como Terras Frias, por ser o ponto mais alto, com 910 metros de altitude. Os agricultores desta região ficaram à margem da economia cafeeira da região serrana na porção oriental do vale do Paraíba, pois não se planta café em terras frias.
Consequentemente dedicavam-se à produção de batata inglesa, abóbora, milho e notadamente na criação de mulas. Ao longo de décadas, os latifúndios foram sendo fracionados por sucessão hereditária e venda de glebas e atualmente as propriedades agrícolas deste distrito têm em média entre 2 e 4 hectares, trabalhadas por agricultores familiares. Imigrantes japoneses ali instalados introduziram inovações agrícolas como o estancamento e o sistema de estufas, logo assimiladas pelos produtores rurais. Campo do Coelho juntamente com Sumidouro e Teresópolis abastecem os mercados da cidade do Rio de Janeiro.
Mantendo a tradição agrícola, não enfrentam o problema da evasão no campo. Este fenômeno ocorreu com o distrito agrícola de Amparo, que perdeu a primazia de mais importante distrito agrícola de Nova Friburgo. Campo do Coelho não enfrenta este problema graças a iniciativa do cônsul da Bélgica Victor Bernhard, que em visita ao distrito ficou sensibilizado que tão importante região agrícola não tivesse uma escola apropriada ao meio rural. Conseguiu junto a ONG belga DISOP o apoio para instalação de uma escola no Campo do Coelho. O belga Charles Van Hombeek foi o executor do projeto. A Prefeitura de Nova Friburgo fez a doação do terreno na localidade de Salinas e foi firmado um acordo criando o Instituto Bélgica-Nova Friburgo, o IBELGA.
Inaugurado em 17 de julho de 1990, a Escola Fazenda Rei Alberto I ou IBELGA, iniciou as atividades escolares quatro anos depois. O educandário para atender os filhos dos pequenos produtores rurais adotou a Pedagogia da Alternância, sistema educativo surgido em 1935 na França. Neste sistema, o processo de ensino e aprendizagem desenvolve-se a partir da experiência e do cotidiano dos educandos, onde o meio sócio-profissional-familiar representa o eixo principal da proposta pedagógica. O método é a alternância passando o aluno um período na escola e outro na produção rural da família. Durante o período que ficam em casa têm o acompanhamento dos professores.
Nesta metodologia existe a troca de conhecimento entre o meio acadêmico e a realidade concreta do meio rural. Ocorre a inserção da escola nas comunidades agrícolas locais bem como maior interação entre professores, alunos e seus pais. Em Nova Friburgo existem dois Centros Familiares de Formação por Alternância, o CEFFA de Salinas e o de Vargem Alta. O primeiro atende aos filhos de agricultores que produzem hortaliças, verduras e frutas. Já a CEFFA Flores em Vargem Alta, no sétimo distrito, atende aos filhos de produtores de flores de corte, com formação em floricultura.
De início, o IBELGA oferecia somente o ensino fundamental, mas posteriormente foi implantado o ensino médio profissionalizante oferecendo cursos técnicos em agropecuária e administração. Em razão deste método pedagógico, a evasão do campo tem sido mínima, garantindo a sucessão do negócio de uma geração à outra. O grito de guerra entre os alunos do IBELGA é “se o campo não planta, a cidade não janta.” Para conhecer mais sobre a Pedagogia da Alternância, em anexo o link do documentário realizado pela TV ZOOM.