Cidadãos de Cordeiro comentam piora nos serviços de Saúde
Desde que uma nova Organização Social (OS) passou a administrar os serviços hospitalares no município de Cordeiro, na Região Serrana do Rio, cidadãos cordeirenses apontam piora na saúde pública municipal. Desde o dia 24 de maio, quem assumiu os serviços de saúde foi o Centro de Estudos e Pesquisas Científicas Francisco Antônio de Salles, com sede na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. O acordo tem duração de 12 meses e prevê o pagamento anual de mais de R$ 9.6 milhões.
Antes, quem prestava os serviços na unidade hospitalar era a Santa Casa de Caridade de Cantagalo, que por 8 meses, custou R$ 3,5 milhões, ou, cerca de R$ 503 mil mensais, à municipalidade. A Santa Casa dava suporte e prestava serviços com mais agilidade e fluidez à comunidade. A nova OS que assume o Hospital de Cordeiro, por 12 meses, custa R$ 9.657.085,92, ou seja, R$ 301 mil mensalmente mais caro aos cofres públicos em comparação com a Santa Casa; e o suporte acontece no Rio de Janeiro ou Maricá – a cerca de 100 quilômetros de distância.
As reclamações são diversas. A moradora Adriana, por exemplo, relatou que está há mais de 4 meses esperando autorização de uma fisioterapia. “Fui na Secretaria de Saúde reclamar e me jogaram para a recepção do posto […] então no posto, a atendente disse que não estão autorizando fisioterapia, semente para pacientes que fizeram cirurgia. […] Até um exame de sangue tem que reclamar porque demora, estou com encaminhamento desde 2021 para o Rio de Janeiro e até hoje nada […]” – disse, indignada.
Há reclamações dando conta da falta de medicamentos e de médicos nos Postos de Saúde. Há também reclamações quanto a fila de cirurgias, que estaria ‘engavetada’. Outra reivindicação é sobre a falta de dentista no Posto de Saúde São Luiz, segundo pacientes que foram até o local, na última semana. Já o Posto de Saúde da Lavrinhas estaria sem médico, sem secretária e sem dentista. No Retiro Poético, mais uma médica teria pedido demissão. Os pacientes se queixam das longas filas que já começam durante a madrugada.
O mais recente ápice da situação caótica testemunhada na rede de saúde do município foi o caso de um homem que se acidentou de moto na semana passada. Segundo relatos de familiares, não havia ortopedista para atendê-lo nem tramadol (medicamento para tirar a dor). O dedo do paciente foi colocado no lugar, embora tivesse ficado torto, por uma técnica de mobilização devido à falta de ortopedista. E para piorar, não havia equipe de sobreaviso (profissionais disponíveis para atendimento de emergência a qualquer hora do dia, da noite ou madrugada).
Outro recente capítulo marcou o sucateamento na rede de saúde cordeirense foi a demissão de um conceituado cirurgião do Hospital de Cordeiro. Em protesto, a equipe técnica resolveu se demitir por entender que não poderia ser cúmplice dos desmandos do sistema. Durante uma cirurgia de obstrução intestinal faltou um clamp. O médico-cirurgião solicitou o item, mas o que foi enviado estaria errado. O governo municipal teria tangenciado a própria irresponsabilidade, terceirizando a culpa pela falta de insumos. O paciente acabou sendo transferido para Maricá, a nova “capital” de Cordeiro, a mais de 100 quilômetros, para conseguir operar.
Com todas essas tribulações na Saúde Pública da ‘cidade exposição’, o secretário da pasta, Marcus Delfraru, acabou exonerado do cargo, conforme publicado no Diário Oficial número 145, de 08 de agosto de 2023. Laurie Dias Alves Horato Garcia saiu do cargo de Diretor Especializado em Atenção a Saúde e Programas Estratégicos da pasta, para assumir a Secretaria Municipal de Saúde. O caos da saúde em Cordeiro é antiga. A Prefeitura de Cordeiro responde a uma ação indenizatória ajuizada pelo Hospital Antônio Castro, do ano de 2019, de mais de R$ 65 milhões de reais, em que discute dívidas trabalhistas e de outras naturezas, danos materiais e danos morais, bem como, a desapropriação indireta do bem imóvel.
A Prefeitura de Cordeiro não se manifestou sobre os casos.