Cia Jane Ayrão faz ensaio fotográfico na Fazenda São Clemente em Cantagalo
No dia 19 deste mês, a Cia de Arte Jane Ayrão viajou de Nova Friburgo até a Fazenda São Clemente, em Cantagalo para fazer um ensaio fotográfico com o mago da fotografia, Pedro Bessa. No dia 30 de setembro, a troupe teatral encenará o espetáculo lítero-musical “A Promessa”, no Grupo de Promoção Humana (GHP), no Cônego. Não haveria melhor locação do que a São Clemente, fazenda histórica do Brasil Império, mesmo período em que se passa “A Promessa”, representada pela Cia de Arte Jane Ayrão.
Francisco Clemente Pinto foi o primeiro proprietário da Fazenda São Clemente. Localizada em Boa Sorte, 5º distrito do município de Cantagalo possuía em seu apogeu uma área de 700 alqueires. No ano de 1883 possuía 750.000 arbustos de café e a força de trabalho de 177 escravizados. Foi visitada pelo Barão Johann Jakob Von Tschudi e pelo Imperador D. Pedro II, em 26 de fevereiro de 1876.
O domínio da Fazenda São Clemente passou dos Clemente Pinto ao coronel José Affonso Fontainha Sobrinho e a seguir aos Monnerat. Após contínuas sucessões hereditárias, em 4 de abril de 1990 Marcello Cardoso Monnerat recebeu por sucessão hereditária de seus pais, Carlos Lincoln Monnerat e Maria José Cardoso Monnerat, uma gleba da São Clemente adquirindo dos demais herdeiros suas respectivas partes. Marcello Monnerat restaurou o palacete da São Clemente, edificada em estilo eclético com elementos neoclássicos, baseando-se especialmente na tela a óleo pintada por Henry Walder, em 1895, que ilustra vários aspectos da sede da fazenda. O mobiliário com peças de diversos estilos tais como Império, Luís XV, Luís XVI, bem como o barroco mineiro foi igualmente restaurado com técnica e apuro.
O fotógrafo Pedro Bessa soube com maestria fazer uso dos ambientes desta propriedade histórica para retratar os personagens oitocentistas, com figurino assinado por Virgílio Santos. Marcello Monnerat fez questão de que alguns atores e atrizes, em razão de seu personagem, portassem objetos pessoais pertencentes no passado aos Clemente Pinto. O ator que representa o primeiro Barão de Nova Friburgo porta um adorno original com seu brasão de armas na sessão fotográfica.
Já a atriz que representa a primeira baronesa porta um leque de duas faces em papel aquarelado, com desenhos em baixo relevo, pertencente a nobre senhora. Uma das faces apresenta um desenho assinado por I. Trole ilustrando uma clássica cena bucólica da nobreza em um picnic, vestindo trajes do século XVIII. Na outra face, pinturas de casas à beira de um rio, na margem oposta um barqueiro em pé e pinheiros ilustrando a paisagem. As 18 varetas do leque são em madrepérolas vazadas, gravadas e decoradas a ouro. Varetas mestras, em ambos os lados, apresentam motivos fitomorfos e zoomorfos distintos: na face com cena bucólica, rosas e aves. Já na face com casas à beira de um rio, motivo fitomorfo distinto. As margens do adereço são decoradas em ambos os lados em dourado. O leque data entre 1850 e 1855 sendo provavelmente de fabricação francesa.
A peça teatral “A Promessa” é baseada na história real do lisboeta Samuel Antônio dos Santos, maestro da Marinha Portuguesa. A iminência de um naufrágio em alto mar em 1858, mudou a vida do músico. Samuel dos Santos prometeu ao orago de sua devoção, Santo Antônio, que se sobrevivesse abandonaria a Marinha no primeiro porto que desembarcasse e construiria uma capela em homenagem ao santo. A embarcação não naufragou e aportou no Rio de Janeiro. Samuel dos Santos se desligou da Marinha e na Corte trabalhou como professor até 1862, quando soube de uma vaga como lente de música no colégio-internato São Vicente de Paulo, em Nova Friburgo, região serrana fluminense.
O internato São Vicente de Paulo funcionava na casa de vivenda da antiga fazenda do Morro Queimado, conhecida como chatêau. A senhora Elisa Heckert Pascal hospedou Samuel dos Santos em sua residência e foi quando o músico se apaixonou pela filha de sua senhoria, a encantadora Guilhermina, cujo amor foi correspondido. Casaram-se e Guilhermina tornou-se companheira inseparável do marido em seu projeto de erguer uma capela em devoção a Santo Antônio. O maestro fundou em 26 de fevereiro de 1863 a Sociedade Musical Beneficente Euterpe Friburguense para arrecadar, com a apresentação de retretas, dinheiro para a construção da capelinha. Solicitou a Câmara Municipal de Nova Friburgo um terreno na praça do Suspiro para erigir a capela, o que foi prontamente atendido.
No dia 13 de junho de 1879 foi lançada a pedra fundamental da capelinha. O maestro fazia parte da comissão de obras e era igualmente festeiro do glorioso Santo Antônio. Pessoas da sociedade friburguense contribuíram com subscrições para a construção. Depois de 5 anos de obra, no dia 13 de junho de 1884 a capelinha foi inaugurada sendo a imagem de Santo Antônio presente da baronesa de São Clemente, que a trouxe de Portugal. O harmônio veio de Paris, recebendo a capelinha doações como imagens sacras, lustre de cristal, o tabernáculo e alfaias. Samuel Antônio dos Santos permaneceu como zelador da capela e festeiro até o seu falecimento em 08 de dezembro de 1905, com 78 anos de idade.
Na peça “A Promessa” a diretora Jane Ayrão coloca o amor entre Samuel e Guilhermina, assim como a construção da capela, como fios condutores da trama, enriquecida com personagens fictícios. Além da dramatização e declamação de poesias, peças musicais como fado, ópera e valsa fazem de “A Promessa” um grandioso espetáculo.