Galdinópolis, um agradável recanto de Nova Friburgo
No ano de 1889 foi criado o distrito de Lumiar, na ocasião 2° distrito, e atualmente 5° distrito do município de Nova Friburgo. O vasto território de Lumiar abrangia diversas localidades de significativa densidade populacional, a exemplo de São Pedro da Serra. Já em 1892, Nova Friburgo se compunha dos seguintes distritos: 1° do centro da cidade, 2° Lumiar, 3° Sebastiana e 4° São José do Ribeirão. Posteriormente São Pedro da Serra ganharia o atributo de 5° distrito, que viria a perder mais adiante. Esta introdução se faz necessária para colocar no mapa o 6° distrito de Galdinópolis, criado em 1927 em homenagem a Galdino do Valle Filho, um dos mais importantes políticos na história de Nova Friburgo. Localidade conhecida como Ponte Nova, para dar origem ao distrito de Galdinópolis foram desmembradas terras de São Pedro da Serra.
Nas eleições presidenciais, Washington Luis ao invés de indicar um político alinhado com Minas Gerais para sucedê-lo, como vinham fazendo São Paulo e o Estado mineiro se revezando no governo, na política do café com leite, escolheu o paulista Júlio Prestes, eleito presidente em um quadro de fraude eleitoral. Getúlio Vargas lidera uma conflagração, conhecida como Revolução de 30, e toma o poder. Neste acontecimento, os friburguenses tiveram participação ativa enviando tropas tanto para o lado dos legalistas como também para os revolucionários.
Galdino do Valle Filho era legalista, facção que perdeu o poder na revolução. Em Nova Friburgo, as lideranças revolucionárias vitoriosas composta por José Galiano das Neves, Carlos Cortes, Luiz Braga Mury, Comte Bittencourt e os irmãos Sylvio, Carlos e Alberto Braune Filho extinguiram o distrito de São Pedro da Serra e evidentemente o distrito de Galdinópolis, que levava o nome de seu adversário político, Galdino do Valle Filho. No entanto, mesmo tendo sido abolido o distrito, os moradores da outrora Ponte Nova continuaram a chamar a localidade de Galdinópolis, afrontando a Junta Revolucionária. Voltando a fazer parte do distrito de Lumiar, esta decisão impediu o desenvolvimento desta localidade que conta nos dias de hoje, de acordo com os moradores, com aproximadamente 500 pessoas.
Se por um lado pode ter sido prejuízo a perda do atributo de distrito, de outro pode ter sido uma vantagem. Os moradores desta pequena localidade desfrutam de uma imensurável qualidade de vida. Segundo eles, a água vinda das nascentes pode ser bebida direto das torneiras em razão de sua pureza. Cercada pela Mata Atlântica, o tapinoã é a madeira da região com a qual faziam no passado os caixões dos defuntos. O rio que atravessa Galdinópolis é o Macaé de Cima e um grande atrativo é a Cachoeira Branca, que apesar de se encontrar em propriedade particular é acessível aos visitantes. Existe em Galdinópolis uma capela, uma escola pública municipal e um único comércio, o mercado São Jorge, do senhor Vanir Gripp. O cemitério local é um lugar de memória dos primeiros habitantes da localidade, a maioria descendentes de colonos alemães como Gripp, Schmidt, Faltz e Heringer e alguns suíços como Ouverney e Bohrer. Para lá se dirigiram no início do século 19 se dedicando ao amanho da terra, notadamente no cultivo do inhame.
A sociabilidade em Galdinópolis é o encontro no bar de Marciano Ouverney onde conversam geralmente sobre a lavoura. No passado, o jogo de malha era o divertimento da localidade. Jogavam o dia inteiro em frente ao bar, tomando de vez em quando uma cachaça. Quando escurecia usavam velas para iluminar a raia de malha. A luz só chegou em 1991 ou 1992, segundo os moradores. Marciano Ouverney ouvia muitas histórias de seu avô, que era Heringer, dono de uma tropa de mulas que comercializava no centro de Friburgo aves vivas como perus e galinhas, capados, mantas de toucinho, batata inglesa, inhame e ovos encapados na palha de milho. No caminho havia uma parada e seu avô fazia uma fogueira no acampamento pois os perus atraíam as onças pardas, que eram muitas na região. Os tropeiros dormiam cercados de galhos de bambu para se protegerem do ataque das onças. Não vendiam, mas trocavam os produtos que levavam por sal, açúcar e arroz. Nesta época o dinheiro mal circulava na região.
Atualmente os lavradores locais produzem aipim, inhame, batata inglesa, banana, feijão, repolho e ovos caipira. Os moradores estão tentando consolidar a festa do aipim, assim como Rio Bonito de Lumiar faz a festa do inhame. O clima favorece o cultivo de cogumelos e Galdinópolis atualmente é o maior produtor de shitake do Estado do Rio de Janeiro, exportando para os supermercados do Rio de Janeiro. No mercado São Jorge, o proprietário Vany Gripp vende, do milho que planta, fubá branco e amarelo moído em seu moinho de pedra. A água que movimento o moinho vem de uma cabeceira de Galdinópolis. Na mercearia vende também araçá e café em grãos plantado na região. Moradores locais produzem bananada feita no tacho em fogão a lenha, como é o caso de Anatália Nair Bohrer Faltz. Os ingredientes são banana d´água, açúcar, limão e casca de laranja.
O isolamento de Galdinópolis decorre das péssimas condições de acesso a esta localidade, notadamente na época das chuvas, quando os caminhos ficam intransitáveis. Isto causa muito prejuízo aos agricultores no transporte de seus produtos. De ônibus leva-se uma hora até o centro de Friburgo. Existe em Galdinópolis o restaurante Recanto do Rio, que possui uma belíssima vista do rio e dos morros, onde se pode fazer uma boa refeição. No povoado nos deparamos com a figura bizarra do Luiz Sérgio, mais conhecido como Dico. A sua residência repleta de quinquilharias é praticamente aberta a visitação e ele tem todo o tempo do mundo para conversar e contar histórias. Outro local que pode ser visitado é a estufa de cogumelos, que podem ser adquiridos direto do produtor. Quando está aberto, o bar do Marciano Ouverney é outro local delicioso para ouvir histórias do passado deste agradável recanto de Friburgo.