A história da Feira da Vila Amélia em Nova Friburgo
A feira no bairro da vila Amélia em Nova Friburgo tem origem, possivelmente, com o imigrante português Antônio Pinto Martins. Nascido em 1° de julho de 1862, no Minho, em Portugal, veio para o Rio de Janeiro com 11 anos de idade trabalhar como caixeiro. Casou-se com Carolina Gomes da Rocha em uma de suas viagens a Portugal tendo o casal oito filhos. Martins trabalhava a 40 anos em seu próprio comércio no Rio de Janeiro, quando aos 52 anos de idade teve um acidente vascular cerebral. A partir de então, decidiu residir com a família em Nova Friburgo onde adquiriu a chácara do Relógio da família Salusse.
Na chácara plantou no pomar pereiras, macieiras, goiabeiras, canforeiras, jabuticabeiras, laranjeiras, bananeiras, caquis, tojos, pita e nêsperas, esta última trouxe as mudas de Portugal. Na vargem plantava hortaliças e legumes, na encosta café e passou a cultivar flores de corte, notadamente cravos. Criava vacas, cabras, porcos, frangos e no fumeiro defumava saborosas linguiças de porco, já que a charcutaria é uma tradição de sua terra natal. Toda a produção era comercializada em um quiosque que construíra próximo a chácara surgindo o “mercado da vila da Amélia”. O sucesso de seus produtos era tanto que o mercado passou a ser em alvenaria.
Mas por que vila Amélia? Martins construiu um suntuosíssimo palacete em sua chácara concluído em maio de 1916, tendo dado à residência o nome de Vila Amélia. A homenagem foi a sua única filha Amélia, entre sete filhos homens. Conhecido como Seu Martins, o habilidoso português além de hortaliças, legumes, frutas e embutidos vendia igualmente leite, queijo, manteiga e mel, todos produtos de sua chácara. Martins trouxe de Portugal a árvore que florescia a flor de tojo, cujo pólen servia para o seu apiário. A família se orgulhava do mel produzido que ganhou medalha de ouro em Bruxelas, a medalha Mel Flor de Tojo. Desde então, fez um rótulo com a estampa da medalha que colocava nos frascos de mel. O córrego do Relógio que atravessava a chácara e alimentava o velho moinho foi canalizado por Martins. O canalete foi coberto por latada de ferro e em toda a sua extensão era circundado por videiras plantadas por Martins para a sua produção de vinho. As videiras sobre a pérgula de ferro atraíam a atenção dos veranistas que ali próximo vinham visitar a famosa fonte do Suspiro.
Na chácara havia a “árvore do palito” no qual se fazia nada menos que palitos. De majestoso e imponente sobreiro próximo ao palacete, árvore que trouxe de Portugal, Martins tirava a cortiça para fazer as rolhas das garrafas do vinho que produzia. Um dos pioneiros na produção de flores de corte, na Exposição do Centenário da Independência, Martins lotou um vagão de carga da Leopoldina Railway com flores para serem exibidas na exposição. Antônio Alves Pinto Martins faleceu no dia 25 de junho de 1924, com 62 anos, e a esposa Carolina Martins em 1945, com 82 anos de idade.
Em janeiro de 1925, menos de um ano do falecimento de Martins, os alemães Carl Siems e o seu filho Carl Ernst Otto Siems instalaram a indústria têxtil fábrica de Filó próximo ao palacete da vila Amélia, possivelmente numa gleba de terras da chácara adquirida dos herdeiros. Além do complexo industrial foram construídos diversos núcleos de vilas operárias ao redor da chácara, urbanizando a pitoresca paisagem rural e dando origem ao bairro vila Amélia. O palacete ainda existe, não obstante o deplorável estado de conservação e a árvore sobreiro, mesmo carcomido por pragas, ainda resiste. Tudo indica que a COOPFEIRA-Nova Friburgo é um desdobramento do quiosque do industrioso português Antônio Pinto Martins, que criou na localidade a tradição da feira de hortifrutigranjeiros.
Janaína Botelho: roteirista, historiadora e professora