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MP pede cassação do governador e onze aliados por escândalos no Ceperj e Uerj

A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio pediu, no dia 14/12, a inelegibilidade e a cassação da chapa eleita do governador Cláudio Castro (PL). Ele é acusado de abuso de poder político e econômico e de conduta vedada a agente público no escândalo das contratações secretas em ano eleitoral para a Fundação Centro Estadual de Estatística, Pesquisa e Formação de Servidores Públicos do Rio (Ceperj) e para programas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O Ministério Público Federal também pediu a cassação e inelegibilidade do vice eleito, Thiago Pampolha; do deputado eleito Rodrigo Bacellar (PL), atual secretário estadual de Governo e favorito na corrida pela presidência da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) em 2023; e de mais nove pessoas. Na lista, há seis secretários ou ex-secretários de Cláudio Castro. A representação, com cerca de cem páginas, afirma que eles foram favorecidos com contratação secreta de dezenas de cabos eleitorais em prejuízo e em desigualdade clara se comparados aos adversários no pleito.

Em agosto de 2022, o @serranewsrj publicou uma reportagem mostrando que projetos esportivos eram usados com cunho político em cidades da Região Serrana do Rio de Janeiro (Reveja). Na área de cobertura do portal, por exemplo, o programa Esporte Presente ganhou núcleos no município de Cantagalo – no 4º distrito São Sebastião do Paraíba e no Bairro Novo Horizonte (BNH), em Cordeiro – no bairro Lavrinhas, e em Nova Friburgo, tendo como base o envolvimento de assessores e políticos locais.

Uma reportagem do UOL, apurou que cerca de 18 mil pessoas foram contratadas pelo órgão com a autorização para receberem seus salários na boca do caixa, com ordem bancária, ou por meio de recibo de pagamento autônomo (RPA). Setenta e dois saques na boca do caixa liberados pelo Ceperj foram para funcionários da Alerj. O caso ficou conhecido como “cargos secretos”, já que a nomeação das pessoas não era publicada no Diário Oficial. As formas de pagamento adotadas, dificultam a rastreabilidade e facilitam a lavagem de dinheiro.

Ceperj: Projetos usados com cunho político viram alvo da Justiça

O pedido da Procuradoria não impediu a diplomação do governador, que aconteceu na sexta-feira, 16/12, sob protestos, em solenidade foi realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O corregedor, ao tomar ciência da representação, pode seguir um de três caminhos: notificar os citados, para apresentarem defesa em prazo de cinco dias; determinar a suspensão dos atos que ensejaram a ação; ou indeferir a inicial.

Com a ação ajuizada, os réus serão notificados para apresentarem suas alegações iniciais. As partes então terão tempo para apresentar provas, documentos e podem pedir que testemunhas sejam ouvidas. Ao fim, há um parecer do Ministério Público, alegações finais e a ação será julgada pelo colegiado do TRE. À decisão, cabe recurso ainda ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.

Castro, reeleito no primeiro turno com 58,6% dos votos, encabeça a lista da ação. Em sabatina antes do primeiro turno das eleições, Castro admitiu erros no Ceperj, mas defendeu o modelo dos projetos sociais. O governo estadual também criou uma auditoria interna que, em relatório preliminar, apontou diversas irregularidades, como a contratação de servidores públicos como terceirizados, e recomendou o cancelamento dos projetos da Fundação. O governo também tentou firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público no início de agosto, mas as conversas não evoluíram.

Primeiro escalão investigado

Também foram acusados deputados e candidatos que são do primeiro escalão do governo estadual ou participaram da administração Castro: a secretária de Cultura, Danielle Christian Ribeiro; o ex-secretário de Esportes, Gutemberg da Fonseca (PL); o ex-secretário de Obras, Max Lemos (Pros); e o ex-secretário de Defesa do Consumidor, Léo Vieira (PSC). O atual secretário de Trabalho e Renda, Patrique Welber, também é acusado pelo MPF. Ele não foi candidato nas últimas eleições, mas é presidente estadual do Podemos.

O deputado federal Áureo Ribeiro (Solidariedade) também está na lista de acusados pelos procuradores. Constam ainda os nomes do ex-deputado, não eleito este ano, Bernardo Rossi (Solidariedade) e do candidato Marcus Venissius (Podemos). O subsecretário de Habitação, Allan Borges, completa a relação. Todos eles, de acordo com o Ministério Público, estariam se utilizando da ‘máquina pública’ para angariar base eleitoral.

A representação, ao ser ajuizada junto ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), passa a tramitar como ação de investigação judicial eleitoral (AIJE). Por lei, a competência natural para assumir a relatoria do caso é do corregedor do TRE, desembargador estadual João Ziraldo Maia (no total, são sete membros).

Veja quem são os acusados

  • Cláudio Bonfim de Castro e Silva (governador)
  • Thiago Pampolha Gonçalves (vice-governador eleito)
  • Rodrigo da Silva Bacellar (deputado eleito secretário de Governo)
  • Gutemberg de Paula Fonseca (candidato não eleito e ex-secretário)
  • Leonardo Vieira Mendes (deputado eleito e ex-secretário)
  • Aureo Lídio Moreira Ribeiro (deputado federal)
  • Bernardo Chim Rossi (candidato não eleito)
  • Allan Borges (subsecretário de Habitação)
  • Max Lemos (deputado eleito e ex-secretário)
  • Marcos Venissius da Silva Barbosa (candidato não eleito)
  • Patrique Welber Atela (secretário estadual e presidente do Podemos no Rio)
  • Danielle Christian Ribeiro Barros (secretária estadual de Cultura)

O pedido, assinado pela procuradora regional eleitoral do Rio de Janeiro, Neide Mara Cavalcanti Cardoso de Oliveira, e pelo procurador substituto, Flávio Paixão, entende que Castro e os demais envolvidos estão incursos nos artigos 73 da Lei 9504/97 (que estabelece normas para as eleições) e 22 da LC 64/90 (Lei de Inelegibilidade), ambas relacionadas a condutas vedadas aos candidatos. A investigação não atingiu só os políticos eleitos, mas também os que não se candidataram, mas contribuíram com o ilícito.

No caso do artigo 73, o parágrafo III proíbe o acusado de ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado.

Saques na boca do caixa

As investigações no âmbito eleitoral começaram em julho, com a abertura de um procedimento preparatório eleitoral logo após a divulgação do escândalo dos cargos secretos e saques na boca do caixa de funcionários do Ceperj.

Na investigação, o MPF trocou informações com o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), que produziu relatórios sobre as contratações do Ceperj e Uerj sem amparo legal, e com a 6ª Promotoria de Tutela Coletiva da Capital, do Ministério Público do Estado (MPRJ), que abriu uma ação civil pública e já obteve decisão junto à Justiça fluminense para sustar os pagamentos ao alegar “nítida afronta às normas de prevenção à lavagem de dinheiro”.

A lista do Ceperj soma cerca de 27 mil beneficiados, que receberam em torno de R$ 248 milhões no ano de 2022, para supostamente atuar em ações sociais. Um cruzamento de dados expôs a conexão política de quem trabalhou na fundação. Ao todo, há cerca de 500 ex-funcionários do Ceperj que participaram das campanhas de candidatos a deputados federais e cerca de 180 nomes na lista de pagamentos que atuaram no pleito junto a candidatos a deputados estaduais.

Além disso, o orçamento da fundação cresceu mais de 20 vezes de 2020 até este ano: passou de cerca de 21 milhões em 2020 para 127 milhões em 2021. Já em 2022, tinha até agosto em torno de 500 milhões em despesas empenhadas. Mesmo assim, o Ceperj teve um aumento de 220% nas verbas para 2023, a despeito do escândalo na contratação de pessoal terceirizado, foi criticado por deputados, durante a discussão do projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) para o próximo ano, na Assembleia Legislativa (Alerj).

Mas a explosão de gastos do governo do Rio de Janeiro com a contratação de pessoal terceirizado este ano não se restringiu à Fundação Ceperj. Dados da Transparência fluminense mostram que, na Uerj, os valores empenhados para cobrir esse tipo de despesa até 1º de dezembro de 2022 já superavam em 361% os registrados no mesmo período de 2021. As contratações para 21 projetos da universidade em parceria com secretarias e fundações chegaram a motivar, em agosto, um pedido da Comissão de Tributação da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para que o TCE-RJ as analisasse.

Os acordos estão na mira de duas auditorias no Tribunal de Contas. Na que examina especificamente o projeto Observatório Social da Operação Segurança Presente, os conselheiros apontaram indícios de irregularidades que poderiam resultar em “grave dano ao erário”, com práticas parecidas com as do Ceperj. A Uerj nega qualquer irregularidade em seus projetos.

Decreto abriu caminho

Em decreto publicado no Diário Oficial do Estado em 9 de março, Castro mudou os objetivos principais do órgão. Antes voltado apenas para o recrutamento de pessoal, capacitação e formação de servidores públicos, e a coleta de dados estatísticos e cartográficos passou a incluir a execução de programas e projetos de cooperação entre os órgãos integrantes da administração pública e apoio a “projetos de experimentação”.

O decreto permitiu o fornecimento de mão de obra a órgãos do governo estadual, em contratos com prazo determinado e mediante contratação direta por Recibo de Pagamento Autônomo (RPA).

Durante a campanha eleitoral, ao se pronunciar pela primeira vez sobre o Ceperj, o governador disse que, após surgirem questionamentos sobre a gestão de programas sociais desenvolvidos pela fundação em parceria com secretarias estaduais, determinou a imediata a instauração de uma comissão para apurar “com rigor e energia” o que ocorria. Em setembro, um resultado preliminar da auditoria apontou irregularidades e recomendou o cancelamento dos projetos do Ceperj.

Quando as primeiras denúncias surgiram, Castro anunciou a substituição do então presidente do Ceperj, Gabriel Lopes, “assim como a proposição imediata de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MP estadual para corrigir rumos e não prejudicar importantes programas sociais”. O governador disse que era o “maior interessado para que tudo seja esclarecido o quanto antes”. Em meio a essa turbulência, Gabriel Lopes informou que havia pedido exoneração do cargo no dia anterior.

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