Nova Friburgo foi pioneiro no cultivo da batata-baroa no Brasil
São nativos no Brasil o caju, o mamão, o maracujá, a jabuticaba e o abacaxi. Inúmeras espécies africanas e asiáticas foram trazidas para o Brasil pelo colonizador português como a cana, a laranja, o limão, a uva, a jaca, o marmelo, o figo, o damasco, o pêssego, o melão, a pera, o jambo-rosa, a tâmara, a romã, o gergelim, o trigo, a soja e o arroz. Hortaliças como mostarda, chicória, couve, acelga, espinafre, alface, salsa, hortelã, cebolinha e temperos como cominho, cebola, alho, colza, endro, açafrão, coentro, pimenta do reino e a canela igualmente são originários destes continentes. Vieram da África o inhame, a banana, o côco, o dendê, o gengibre, o quiabo, o feijão-fradinho, a mamona, o caruru e a bertalha. A manga veio da Índia de uma colônia portuguesa.
São as trocas alimentares. E quanto aos legumes? Recebemos do exterior o chuchu, a berinjela, a abóbora, o nabo, a cenoura, o repolho, o pepino, entre outros. A chegada de novidades não cessou ampliando ao longo de séculos o cardápio do brasileiro. Neste artigo vou destacar a chegada da batata-baroa, caule subterrâneo também conhecida como mandioquinha, batata-fiúza, batata-salsa, mandioquinha-salsa, cenourinha-amarela e cenourinha-branca. A curiosidade é que este legume foi plantado pela primeira vez em Nova Friburgo pelo filho do primeiro barão de Nova Friburgo.
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Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, segundo barão, visconde e depois conde de Nova Friburgo, filho do abastado cafeicultor e traficante de escravos Antônio Clemente Pinto, primeiro barão de Nova Friburgo, trouxe este tipo de batata para o Brasil vindo de uma de suas viagens às Antilhas. Tratando-se de uma novidade fez uma experiência plantando-a inicialmente não em uma de suas fazendas, mas em sua chácara em Nova Friburgo, cidade serrana do estado do Rio de Janeiro.
Esta chácara comumente conhecida como “Chácara do Chalet” era uma propriedade rural cujo chalé foi construído na década de 1860 pelo pai do conde. A casa de vivenda no estilo chalet era moda na ocasião e no seu entorno havia roças como a de milho, pomar, lagos e um belíssimo jardim planejado com repuxos. Havia também como benfeitorias um moinho, um paiol, senzala para os escravizados, casa do administrador, estrebaria, curral para o gado e estala para a criação de porcos, frangos, galinhas e patos.
O conde era casado com Ambrosina Leitão da Cunha Clemente Pinto, filha do barão de Mamoré, juiz e político no Império. Antes de ser conde, Bernardo Clemente Pinto Sobrinho recebeu o título de segundo barão de Nova Friburgo e consequentemente a sua esposa o título de baronesa. Quando a batata baroa trazida das Antilhas foi plantada em sua chácara, a baronesa se tornou uma grande apreciadora deste legume. Como os escravizados da chácara se referiam a senhora Ambrosina como “baroa”, uma corruptela de baronesa, o legume que ela tanto apreciava era chamado entre os cativos de “batata da baroa” e daí, batata baroa. E pegou! Esta chácara coube como herança ao irmão do conde Antônio Clemente Pinto Filho, conde de São Clemente, a seguir foi adquirida por Eduardo Guinle e sucessivamente pelo clube social Nova Friburgo Country Club, tombada como patrimônio histórico.
Janaína Botelho: roteirista, historiadora e professora