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Cantagalo: Colégio Euclides da Cunha já funcionou no Palacete do Gavião

Conheci o Colégio Euclides da Cunha, em Cantagalo (RJ), ainda garoto, por volta dos dez anos de idade, quando meus pais residiam na Fazenda da Serra, distrito de São Sebastião do Paraíba. Meu pai, Henrique Luiz Frauches, me entregou uma foto dele na conclusão do então curso primário, em regime de internato. Nessa época, o Colégio funcionava no Palacete do Gavião, sob a direção do Prof. Manoel Vieira Baptista. Henrique concluiu o curso aos dezoito anos, em 1929, com louvor. Tenho essa foto até hoje. O palacete do Gavião abrigou o Colégio por pouco tempo, possivelmente, a partir de 1925 e até 1930. Certamente poucos se lembram de que o Euclides da Cunha, um dia, funcionou no Palacete do Gavião.

Na capa deste artigo (foto acima), a turma que completou o curso primário no Colégio Euclides da Cunha, em 1939, no Palacete do Gavião, em Cantagalo. Sentado, entre os militares que atuavam no Tiro de Guerra, está o coronel Marcelino de Paula, líder político local. Ao lado esquerdo deste, os professores Manoel Vieira Baptista, diretor do Colégio, e Francisco Eugênio Vieira, que foi vereador em Cantagalo. (Acervo do Instituto Mão de Luva)

A partir de 1930, o Colégio passou a funcionar na Rua Rodolfo Albino, no centro de Cantagalo, e, em seguida, em um prédio de dois andares, antiga residência do coronel Bibi de Mello, em frente à Praça João XXIII e o Cantagalo Turismo Hotel. Foi nesse prédio que fiz o curso científico, sob a direção do tenente Mário de Moraes Teixeira, conhecido por “Tenente Mário”, irmão do professor Messias de Moraes Teixeira. Este era o proprietário do Colégio em Cantagalo e um dos proprietários, professor e diretor do Colégio Modelo, em Nova Friburgo. Ali, fiz o curso científico, ao lado do querido amigo Júlio Carvalho e outros colegas.

Último prédio do Colégio Euclides da Cunha, em frente à Praça João XXIII e ao lado do Cantagalo Turismo Hotel. Esse imóvel foi destruído. Em seu lugar, surgiu a agência do Banco do Brasil. (Acervo do Instituto Mão de Luva)
Último prédio do Colégio Euclides da Cunha, em frente à Praça João XXIII e ao lado do Cantagalo Turismo Hotel. Esse imóvel foi destruído. Em seu lugar, surgiu a agência do Banco do Brasil. (Acervo do Instituto Mão de Luva)

Nessa época, entre 1952/1954, tive bons professores, com destaque para a prof. Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves, com a qual aprendi geografia política. Nós éramos conduzidos a desenhar os mapas, a saber o nome de todos os países e suas capitais. Da França, tivemos que aprender o hino francês, a Marselhesa, que cantávamos nas aulas de Canto Orfeônico, também de responsabilidade da prof. Maria de Lourdes. O prof. Baptista era um docente de múltiplas disciplinas. Substituía qualquer professor que faltasse às aulas. O tenente Mário, às vezes, também pretendia substituir outros professores, sem o mesmo sucesso.

O Colégio Modelo surgiu, primeiro, em Cordeiro (RJ), em 1919, sendo transferido para Nova Friburgo em 1926. O professor Carlos Domingues Côrtes e sua esposa, Zélia, eram os proprietários, mediante autorização do então presidente Getúlio Vargas e Anísio Teixeira, um dos educadores do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Esse manifesto estava fundamentado nas teorias do educador Lourenço Filho e contribuições do próprio Anísio Teixeira. Era um colégio conceituado na região serrana. O professor Messias, nas décadas de 50 e 60 do século passado, tinha um bom conceito em Cantagalo e Nova Friburgo.

O antigo Colégio Modelo, em Nova Friburgo, e o novo prédio, em restauração, cercado por um centro comercial. (Acervo de A Voz da Serra)
O antigo Colégio Modelo, em Nova Friburgo, e o novo prédio, em restauração, cercado por um centro comercial. (Acervo de A Voz da Serra)

Em 1935, a Prefeitura Municipal de Cantagalo assumiu a gestão do Euclides da Cunha, dando-lhe a denominação de Ginásio Municipal. Três anos depois, retornou à livre iniciativa, por intermédio da empresa Bittencourt & Irmãos, sob a direção de um tradicional educador da região serrana, o prof.  Jayme da Siqueira Bittencourt, assumindo o antigo nome de Colégio Euclides da Cunha. Este contava com a colaboração de educadores de reconhecido valor, como os professores Messias, Baptista, Maria de Lourdes, Alcides Ventura, Sílvio Lutterbach, Amélia Thomaz (nome literário: Amélia Tomás).

O Colégio Euclides da Cunha, em sua sede no casarão da Rua Rodolfo Albino, em frente à Praça João XXIII, o pulmão de Cantagalo, formou várias gerações de cantagalenses e cordeirenses, nos cursos que oferecia, em nível médio, como o Normal, o Técnico de Contabilidade e o Científico. Daqueles bancos escolares saíram muitos e excelentes professores, médicos, como o Dr. Júlio Carvalho e João Guzzo, médicos-veterinários, como o Ivair de Souza Marques, o “Gato”, advogados, como o Dr. Geraldo Arruda Figueredo, cirurgiões dentistas, enfermeiros, contadores, administradores, jornalistas, escritores, como Edmo Lutterbach.

Quando o tenente Mário assumiu a direção, substituindo seu irmão Messias, o secretário era Joaquim Soares, seo Soares para os alunos. Ele me lembra uma espécie de inspetor de disciplina, que era muito amado pelos alunos, mesmo fazendo cara de bravo. Mais tarde, passou a ter a ajuda do inesquecível Ewandro do Valle Moreira, professor de Educação Física, que soube muito bem comunicar-se com a juventude e que guardou um lugar de muito afeto no coração de tantos alunos, no Euclides e, depois, no Colégio Cantagalo, da CNEC e, mais tarde, no Colégio Estadual Maria Zulmira Torres.  Uma época que não se apaga da minha memória.

O prof. Messias de Moraes Teixeira está entre colegas, em evento do Colégio Modelo. Ele está ao centro da foto, de lado, com bigode e terno preto. (Acervo de A Voz da Serra)
O prof. Messias de Moraes Teixeira está entre colegas, em evento do Colégio Modelo. Ele está ao centro da foto, de lado, com bigode e terno preto. (Acervo de A Voz da Serra)

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