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Café em Nova Friburgo: Fazenda da Cachoeira do Amparo

A fazenda da Cachoeira do Amparo é localizada no distrito de Amparo, no município de Nova Friburgo, região serrana fluminense. Trata-se de uma fazenda histórica do século 19, que pertenceu a uma das famílias mais importantes de Nova Friburgo, os Neves. A história desta região tem início com a fazenda de São Simplício, um latifúndio que tinha aproximadamente uma extensão de 2.178 hectares. Há divergência entre os historiadores se teria pertencido a Elias José Caetano ou a João Luiz Ribeiro. De qualquer forma, a história do distrito de Amparo tem início a partir da Fazenda de São Simplício. No ano de 1858 foi criada a Sociedade Fundadora da Freguesia de São José do Ribeirão com o objetivo de vender ou aforar glebas de terra de São Simplício. Desmembrado, este latifúndio deu origem a freguesia de São José do Ribeirão,O m a terceira de Nova Friburgo.

Destaque para o terreiro de café, 1935. Acervo Walther S. Neves
Destaque para o terreiro de café, 1935. Acervo Walther S. Neves

O município serrano passa a ser constituído da freguesia de São João Batista, sede da vila, de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer (1844), São José do Ribeirão (1857) e Nossa Senhora da Conceição do Ribeirão da Sebastiana (1862). De acordo com o censo 1872, a população escravizada de São José do Ribeirão era a maior de Nova Friburgo, com 3.072 escravizados, de um total de 6.684 indivíduos cativos no município. Inúmeros colonos suíços e alemães imigraram para esta freguesia em busca de terras mais quentes para o cultivo do café. Se estabeleceram na região onde hoje é o distrito de Amparo as famíllias Frossard, Folly, Sanglard, Lugon, Gripp, Lamblet, Bussinger, Mury, Schuenck, Hermsdorff, Heckert, Schuabb, Thurler, Emerick, Heckert, Schumacker, Heller, entre outras.

No ano de 1879, uma das glebas de terras da outrora fazenda de São Simplício foi adquirida por José Antônio Marques Braga, denominando-a de fazenda da Cachoeira do Amparo. Normalmente as fazendas tinham o nome de um santo ou de uma indicação geográfica, e no caso desta propriedade, recebeu o nome em razão de uma belíssima cachoeira que existia no local. Marques Braga vendeu a fazenda da Cachoeira do Amparo para o seu meio irmão, Galiano Emílio das Neves Junior, que vamos referir mais adiante. Posteriormente outras glebas de terras foram sendo adquiridas e anexadas a esta fazenda passando a propriedade a possuir 250 alqueires ou 680 hectares, aproximadamente 30% da extensão da outrora fazenda de São Simplício.

A fazenda da Cachoeira do Amparo no Caderno Terra Fluminense. Acervo internet
A fazenda da Cachoeira do Amparo no Caderno Terra Fluminense. Acervo internet

A história da família Neves tem início com os irmãos Galiano Emílio, Galdino Emiliano e Joviano Firmino. No século 19, deixaram a vila de São João del Rei, em Minas Gerais, e se estabeleceram no município Nova Friburgo. Galiano Emílio das Neves foi quem primeiro residiu na vila serrana. Nascido em São João del-Rei em 1826 foi para o Rio de Janeiro iniciar os seus estudos no curso de Medicina. Vítima da tuberculose pulmonar interrompeu os estudos na faculdade e fixou residência em Nova Friburgo, cujo clima salubre ajudava na convalescência desta doença. Os irmãos Galdino Emiliano e Joviano Firmino das Neves seguiram os passos do irmão.

Galiano Emílio das Neves Junior, coronel Chon Chon. Acervo Walther S. das Neves
Galiano Emílio das Neves Junior, coronel Chon Chon. Acervo Walther S. das Neves

Galiano Emílio das Neves casou-se com a viúva Josephina, filha de família franco-suíça, proprietários Hotel Salusse. Trocou o amanho da terra pela educação e pela política. Passou a lecionar música no colégio São Vicente Paulo e posteriormente adquiriu na vila o Instituto Colegial de Nova Friburgo, do inglês John Freese onde igualmente lecionava. Foi vereador em diversos mandatos participando da política local. Galiano Emílio das Neves faleceu no ano de 1916, aos 90 anos de idade. O seu filho Galiano Emílio das Neves Junior o sucedeu na política local, conhecido como coronel Chon Chon. Este coronel era um político influente e aguerrido, mas não descurava das lavouras de café da fazenda da Cachoeira do Amparo. Possuía ainda a fazenda de São Bento, que por se situar nas terras frias, imprópria ao cultivo de café, criava e comercializava mulas. Não se planta café em áreas acima de 600 metros do nível do mar, as denominadas terras frias.

A ruinas da antiga fazenda foram mantidas pelos atuais proprietários. Acervo pessoal
A ruinas da antiga fazenda foram mantidas pelos atuais proprietários. Acervo pessoal

Tudo indica que a fazenda da Cachoeira do Amparo se tornou a mais importante unidade produtiva de Nova Friburgo. No ano de 1920 registrou a produção de 12.000 arrobas de café, além do cultivo de cana-de-açúcar e cereais, conforme o Caderno Terra Fluminense. Galiano Junior realizou diversas benfeitorias na propriedade. Mandou construir banquetas em cantaria que conduziam água para o engenho, importou da Inglaterra uma enorme roda d’água que tocava as roldanas e beneficiava o café. Sua administração na fazenda foi no período de 1890 até o seu falecimento em 29 de agosto de 1922.

Instalações da atual fazenda Cachoeira do Amparo. Acervo pessoal
Instalações da atual fazenda Cachoeira do Amparo. Acervo pessoal

Após a morte de Galiano Junior a Cachoeira do Amparo passou a ser administrada por seu filho José Galiano das Neves. Este último acrescentou um andar superior na casa-sede da fazenda, realizou diversas benfeitorias e deu continuidade a atividade econômica da propriedade. Com o decorrer dos anos passou a administrar somente a fazenda de São Bento deixando a administração da Cachoeira do Amparo com a sua mãe Dona Vitalina Fontes das Neves. Havia na fazenda dois terreiros para secar os côcos de café. O terreiro de cima, em um platô acima do engenho, e o terreiro de café de baixo, próximo à casa de vivenda. Em uma imagem no ano de 1935, pode-se ver ainda os dois terreiros de secagem de café repletos de grãos. Isto significa que a família Neves resistiu ao colapso de 1929, crise essa que provocou a falência de muitos fazendeiros nesse ramo de negócio. No entanto, com o passar dos anos as lavouras de café na fazenda da Cachoeira do Amparo foram sendo reduzidas e dando lugar a culturas de flores, banana, feijão e milho.  

Carro de boi utilizado na fazenda serve de ornamento. Acervo pessoal
Carro de boi utilizado na fazenda serve de ornamento. Acervo pessoal

Dona Vitalina administrou a fazenda até o seu falecimento no ano de 1968. Desde então, esta propriedade foi transmitida, por herança, a Vitalina das Neves Lange e a Walther José Seng das Neves. Este último transferiu a sua meação para a irmã, casada com Berndt Lange, que mantiveram uma pequena lavoura de café e se voltaram à criação de gado e cavalos da raça campolina. Walther das Neves ficou com a fazenda de São Bento. Depois de ter pertencido há mais de um século a família Neves, há alguns anos atrás a fazenda da Cachoeira do Amparo foi vendida a Jorge de Aguiar Pinto.

Cafezais da fazenda da Cachoeira do Amparo. Acervo Walther S. das Neves
Cafezais da fazenda da Cachoeira do Amparo. Acervo Walther S. das Neves

Com os novos proprietários, a fazenda passou por uma grande reforma e restauração. A casa-sede de dois pavimentos, que já havia desabado muitos anos antes foi reformada mantendo-se o estilo colonial, mas ficou somente com um andar. Dentro do imóvel foi reproduzido em um dos cômodos um bar bem ao estilo brasileiro do século passado, com peças garimpadas principalmente no Estado de Minas Gerais. O tradicional baleiro, o fumo de rolo e a balança com várias medidas de peso compõem o cenário do bar. Alguns assentos imitam galões de leite e variados chapéus compõem o ambiente. Peças de carro de boi como a canga e a roda, dormentes do trilho do trem, entre outros artefatos antigos fazem parte da ornamentação externa da propriedade.

De uma fazenda produtiva, atualmente um local de lazer. Acervo pessoal
De uma fazenda produtiva, atualmente um local de lazer. Acervo pessoal

A roda d’água do século 19 importada da Inglaterra foi restaurada e voltou a funcionar. O antigo paiol se tornou uma área social e toda a estrutura de pedra de suas paredes foram aproveitadas. O lago foi igualmente mantido na propriedade com a introdução de diversas aves aquáticas e espécies de peixes. Nada foi removido pelos atuais proprietários do que restou desta fazenda histórica. Foram mantidas as estruturas de pedras das antigas construções e igualmente as benfeitorias. A pequena capela da fazenda foi reformada e mobiliada com bancos e algumas peças religiosas. A criação de cavalos é mantida pelos atuais proprietários. Percebe-se que o objetivo é tornar a fazenda da Cachoeira do Amparo em um local muito mais de lazer do que propriamente uma unidade produtiva como fora no passado.

A roda d’água do século 19 importada da Inglaterra foi restaurada. Acervo pessoal
A roda d’água do século 19 importada da Inglaterra foi restaurada. Acervo pessoal

O ex-presidente Tancredo Neves é ligado ao tronco familiar dos Neves, importantes atores históricos em Nova Friburgo. Tiveram uma rivalidade aguerrida contra outro importante político Galdino do Vale Filho. Na Revolução de 30, participaram ativamente e José Galiano das Neves ao lado das forças revolucionárias. No entanto, deixaram a cena política no município desde o falecimento do coronel Chon-Chon. A maior parte da família tem domicílio em outras cidades, como o Rio de Janeiro, mas ainda possuem propriedades em Nova Friburgo. A histórica fazenda de São Bento continua na família. Em razão da história de seus ancestrais continuam a manter vínculos afetivos com o município.


Janaína Botelho – Serra News

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