Cadima Shopping promove evento dos povos formadores de Friburgo
O Cadima Shopping realiza no período de 21 a 31 deste mês, o evento Cadima Colônias, que reunirá os povos formadores de Nova Friburgo. Nesta oportunidade descendentes de portugueses, africanos, suíços, alemães, italianos, espanhóis, libaneses, japoneses, húngaros e austríacos vão exibir a sua cultura e notadamente sua gastronomia. Cerca de 3,8 milhões de imigrantes europeus e asiáticos entraram no Brasil entre os anos de 1887 e 1930. Os italianos formavam o grupo mais numeroso, vindo a seguir portugueses e espanhóis. Por intermédio de um acordo entre o Rei D. João VI e a Confederação Helvética, atual Suíça, uma colônia agrícola foi instalada no município de Cantagalo para receber agricultores helvéticos(suíços). Para tanto, algumas sesmarias de Cantagalo foram desmembradas, na vertente da serra da Boa Vista, para constituir em 03 de janeiro de 1820 o município de Nova Friburgo.
Alguns anos depois esta colônia agrícola recebeu famílias germanas para substituir os suíços que abandonaram suas glebas de terra, se dirigindo, de um modo geral, para Cantagalo. Antes mesmo do acolhimento destes colonos havia na região serrana agricultores originários de Minas Gerais e portugueses dos Açores e da Ilha da Madeira. Merece destaque Antônio José Mendes, nascido em 1822, natural dos Açores, que se estabeleceu nas Terras Frias, atual distrito do Campo do Coelho, proprietário da histórica fazenda Rio Grande. Além de lavradores, os Mendes organizaram um mercado local para a comercialização de sua lavoura e dos pequenos agricultores, conhecido como barracão dos Mendes. O Ceasa é fruto deste mercado comercializando atualmente legumes, verduras e frutas da produção de Nova Friburgo, Teresópolis e Sumidouro.
São inúmeras as famílias descendentes de colonos suíços em Nova Friburgo. Tornaram-se pequenos produtores rurais e atualmente estão concentrados em Lumiar, São Pedro da Serra e Amparo, todos distritos rurais. No entanto, os que fizeram fortuna foram os que se dirigiram para Cantagalo se dedicando ao cultivo de café, a exemplo das famílias Monnerat, Lemgruber e Lutterbach. Com relação aos germanos geralmente se confunde a história dos que vieram em 1824 para Nova Friburgo como colonos, com os imigrantes alemães que instalaram indústrias a partir de 1911 no município. Julius Arp, Maximilian Falck, Otto Siems e Hans Gaiser deram origem a uma ruptura na história econômica, política e social de Nova Friburgo, a partir da instalação de suas fábricas têxteis e metalúrgica.
Os italianos nos deixaram importante legado arquitetônico como o hotel Central anexo ao Instituto Sanitário Hidroterápico, do médico italiano Carlos Eboli, cujo prédio nos dias de hoje é ocupado pelo colégio N.S.das Dores. O imigrante italiano Elviro Martignoni pintou admiráveis afrescos nas residências do barão de Nova Friburgo, inclusive no Palácio Nova Friburgo, hoje Museu da República e que já foi residência oficial do presidente da República quando o Rio de Janeiro foi capital do Brasil. Os Spinelli em meados do século vinte se tornaram a família mais próspera de Nova Friburgo com investimentos na construção civil, no comércio e na agropecuária.
Já os espanhóis exerceram atividades de oleiros, ceramistas e hoteleiros. A edificação do colégio Anchieta dos padres Jesuítas foi comandada pelo arquiteto e imigrante espanhol Francisco Vidal Gómes, natural de Pontevedra, na Espanha. As monumentais escadas em peroba, de puro encaixe, não tendo um só prego, instaladas no saguão do colégio são um exemplo de sua genialidade. Os Jesuítas como gratidão providenciaram um busto de Francisco Vidal em tributo a sua memória, exposto no saguão do colégio. Como os libaneses ao imigraram para o Brasil viviam sob o domínio Turco-Otomano, a população os chamava de turcos. Por herança atávica se dedicaram ao comércio abrindo armarinhos, alguns trabalhando anteriormente como mascates. Na principal rua do comércio da cidade, rua Alberto Braune, quase metade das lojas era de libaneses. Os japoneses deram imensa contribuição à lavoura nos distritos agrícolas de Nova Friburgo. Outrora a lavoura de legumes era rasteira ficando vulneráveis às pragas pelo contato com a terra. Os japoneses ensinaram os agricultores a usarem estacas verticalizando a planta e ganharam com esta prática muito mais produtividade. Igualmente instruíram na preparação de estufas revolucionando o modo de plantio legumes e hortaliças na região.
Toda esta imigração de europeus e asiáticos acabou atraindo um pequeno grupo de húngaros e austríacos para Nova Friburgo, que se dedicaram, de um modo geral, a hotelaria. Ainda que em menor número fazem questão de trazer sempre a memória de seus antepassados. O município tem igualmente matriz africana. Como em todo país, imigrantes forçados, os africanos chegaram a Nova Friburgo como escravizados. No município, duas de suas freguesias, São José do Ribeirão e N.S. da Conceição do Paquequer concentravam significativo plantel de escravizados trabalhando nas lavouras de café. A presença negra em Nova Friburgo pode ser conhecida através do livro de Gioconda Lozada, que escreveu uma brilhante obra do pós abolição no munícipio. O Cadima Shopping quando realizou um evento, por ocasião do bicentenário de Nova Friburgo participaram moradores da Vila Areinha, de Cantagalo, descendentes de escravizados da fazenda Areas, do barão de Nova Friburgo. Neste evento prepararam maravilhosas guloseimas com base no feijão.
Todos estes povos formadores de Nova Friburgo vão expor em quiosques, no primeiro piso do Cadima Shopping sua gastronomia, cultura, bem como apresentação de danças típicas. O evento é gratuito e vale a pena conferir todas as cores de Nova Friburgo.
- Janaína Botelho: roteirista, historiadora e professora
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