Os festivais de quadrilha na Fazenda do Cônego, em Nova Friburgo
Fazenda do Cônego, propriedade de Antônio Clemente Pinto, primeiro barão de Nova Friburgo, no século 19. De acordo com a memória oral tem este nome por ter o nobre barão dado abrigo a um clérigo em sua fazenda. O nome fazenda foi suprimido na década de 1950, quando passou a circular pela cidade a linha de ônibus que trazia no letreiro apenas a indicação de cônego. Desde a Várzea Grande, hoje conhecida como Vargem Grande, até a Grota Funda, na Fazenda do Cônego, o lavrador José Pires Barroso tinha sua propriedade rural. Plantava chuchu, abóbora, inhame, batata inglesa e doce, frutas, flores, hortaliças e se dedicava também a apicultura e a criação de carpas. No seu pequeno e modesto folder da Fazenda do Cônego anunciava a venda de laranja bahia, bahia cabula, natal, seleta branca e rosa, cipó, bacu-urubu e japonesa. Igualmente vendia pera, côco, lima de umbigo, limão doce, francês, de Gênova e azedo, tangerina especial e de King Kong. No anúncio constava ainda a venda de flores de corte como cravo, que deu a alcunha a Nova Friburgo de cidade dos cravos.
Na década de 1930 foi pioneiro na plantação de trigo e se destacou anos depois, além do cultivo de flores, no replantio florestal de eucaliptos. Na Fazenda do Cônego criou seus filhos de três casamentos. Foi casado inicialmente com Maria Francelina, tendo segundas núpcias com Palmira Veronese ficando viúvo de ambas. Casado em terceiro matrimônio com Leovegilda Costa Barroso teve os filhos Beatriz Barroso da Silva, Alencar Pires Barroso, Alebrão Pires Barroso, Sílvio Pires Barroso, Danton Pires barroso, Ney Barroso Kromberg, José Pires Barroso Filho, Wanda Barroso Borges e Lígia Barroso Almeida. O velho Barroso, como era conhecido, entrou na política se candidatando ao cargo de vereador, mas não obteve sucesso. No entanto, o seu filho Alencar Pires Barroso foi vereador durante 25 anos e prefeito em um mandato de seis anos. Não estimulou nenhum de seus filhos a segui-lo no amanho da terra. O velho Barroso foi o criador do Clube dos Lavradores, conhecido como a Casa do Pau Torto, que funcionava no Cônego. Fundou o Sindicato Rural, a Associação Rural de Nova Friburgo e foi vice-presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo. No Clube do Xadrez organizava e promovia a Exposição de Flores e Frutos.
Nas noites de inverno da fria Friburgo, nas festas juninas de Santo Antônio e São João, o céu ficava pintado de balões e de fogos coloridos. As fogueiras e o quentão aqueciam mentes e corações. Nas festas, as moças circulavam faceiras cheias de dengo, com muita chita e fita nas tranças. Já os rapazes com bigodes feitos de rolha queimada aplicavam remendos na roupa em estilo cubista e portavam os indefectíveis chapéus de palha. As moças mendigavam os torrõezinhos que eram colocados aos pés de Santo Antônio, o santo casamenteiro. Folclorista, de acordo com José Côrtes Coutinho, as tradições populares tinham em José Pires Barroso um cultor apaixonado. Foi o criador do Festival de Quadrilhas do Cônego, uma das mais importantes atrações turísticas de inverno em Nova Friburgo. A dança de quadrilha, herança da França era marcada em francês pelo velho Barroso.
Nos festivais de quadrilha os itens avaliados pela comissão julgadora eram garbo, ritmo, conjunto geral, sinhazinha, caipira e melhor marcador. Os festivais de quadrilha foram se espalhando por vários bairros de Nova Friburgo e o velho Barroso era sempre convidado para fazer a marcação das danças. José Pires Barroso faleceu em 17 de abril de 1976, aos 83 anos de idade. Durante algumas décadas, os festivais de quadrilha continuaram ecoando pelos arraiais da cidade. Há o registro de que a Escola de Samba Imperatriz de Olaria passou a promover um festival de quadrilha. O bairro do Cônego foi durante muitos anos residência de veranistas cariocas e niteroienses. Atualmente isto não ocorre mais se tornando um bairro das classes média e alta friburguense. O busto de José Pires Barroso se encontra na praça principal do Cônego em memória ao velho Barroso, o rei das quadrilhas na Fazenda do Cônego.
- Janaína Botelho: roteirista, historiadora e professora
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