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O menino que revolucionou a imprensa e a literatura madalenense

O ano era 1911, quando ainda menino de calças curtas com 13 anos de idade, Joaquim Laranjeira deu início à confecção do jornal A SEMANA, cujo periódico era escrito à mão, com tiragem inicial de 20 exemplares que eram entregues pessoalmente pelo próprio redator nas casas de assinantes na cidade de Santa Maria Madalena, Região Serrana do Estado do Rio.

Tal foi o sucesso do empreendimento que já na sexta edição o número de exemplares precisou ser elevado à casa de 50 jornaizinhos. Que trabalheira para o menino jornalista, escrever o mesmo texto de forma manuscrita 50 vezes! Só mesmo a obstinação de alguém que nasceu predestinado a brilhar como jornalista e escritor para justificar tamanha façanha.

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Em 03 de outubro de 1918, Joaquim Laranjeira fundou o jornal A SEMANA, que anteriormente era manuscrito, sendo que a partir dessa data passou a ser editado tipograficamente, o que aconteceu sob a sua direção e redação até às vésperas do seu passamento em 22 de novembro de 1949, aos 52 anos de idade.

Por anos a fio foi importante colaborador de diversos órgãos de imprensa de todo o Estado do Rio de Janeiro e fora das fronteiras do território fluminense. Em Madalena fundou e dirigiu também jornais críticos como “O TAGARELA” e “A CORUJA”, e ainda revistas literárias como “MADALENA”, “PORVIR”, “A SEMANA” e “A SERRANA”.

Além da sua notável contribuição ao jornalismo, Joaquim Laranjeira notabilizou-se também como autor de várias obras literárias escritas entre os anos de 1931 e 1945, todas recebidas elogiosamente pela crítica, entre as quais, destacam-se: “A PEQUENA HISTÓRIA” (episódios históricos do município); “POEIRA DE ARQUIVO” (fatos da história do Brasil); “A CABEÇA DE SULTANA” (tradução do poema de François Copeé); “CANASTRA DE MASCATE” (apontamentos históricos do município); “BENTO GURGEL” (romance histórico); “FLORIANO PEIXOTO” (biografia romanceada); “CAXIAS O DUQUE DE FERRO” (romance histórico); “O BEQUIMÃO” (romance histórico); “CONSPIRAÇÃO DOS BÚZIOS” (romance histórico); e “UMA LUZ NAS TREVAS” (tradução da obra de René Berton, adaptado para o rádio pela Rádio Tupi), tendo deixado inéditos os romances históricos “A NOIVA DO PATRIARCA”, “O TESOURO DOS JESUÍTAS” e “NETA DO PATRIARCA”, e quando da sua morte estava organizando “MEUS MORTOS”, transcrição de necrológios retratando episódios da sua infância.

Há de ser destacado também o perfil de historiador de Joaquim Laranjeira. Impossível falar sobre a história do município de Santa Maria Madalena sem que se faça pesquisas nos apontamentos e registros lançados por ele nos livros “A Pequena História” e “Canastra de Mascate”, também nos jornais A Semana, O Tagarela e A Coruja, e ainda nas revistas Madalena, Porvir, A Semana e A Serrana.

Em 1923, de volta ao seu torrão natal, após ter residido na cidade do Rio de Janeiro e já afamado no mundo jornalístico, tomou posse no cargo de Escrivão da Coletoria Estadual. Casado com a também madalenense Maria de Lourdes Souza Lima, filha do Cel. José Souza Lima e Dona Luíza Gomes de Souza Lima, o casal teve 14 filhos: Gérson, Edazima, Zilma, Ilza, Eny, Celma, Maria de Lourdes, Joaquim Laranjeira, Pedro Luiz, René, Silton, Joaquim José, Evy e Gersy.

MORTE DE JOAQUIM LARANJEIRA REPERCUTIU NA IMPRENSA NACIONAL

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A morte de Joaquim Laranjeira repercutiu em toda a imprensa do Rio e na de outros Estados, toda ela ressaltando o seu valor como jornalista e como escritor romancista. O jornalista Alvarus de Oliveira, no jornal o “Diário do Povo”, da cidade de Niterói, afirmou: “Na literatura Joaquim Laranjeira fora sem favor nenhum, dos mais perfeitos romancistas históricos que o Brasil possuiu. Consideramo-lo superior a Paulo Setubal pois não fugia à verdade dos fatos e na sua linguagem escorreita (em algumas obras usava-a quinhentista), sem fantasiar tanto, conseguia tirar os acontecimentos da “poeira do arquivo” e dar-lhes realce e beleza como em “Conspiração dos Búzios”.

Disse ainda o jornalista Alvarus de Oliveira: “O povo de Madalena acompanhou em peso os restos mortais de Joaquim Laranjeira à sua derradeira morada. O comércio cerrou suas portas e pararam todas as atividades locais. A cidade ficou em luto três dias e soube, destarte, tributar ao diretor e fundador de “A Semana” as homenagens a que fez jus a sua figura de homem patriota, de jornalista completo e de escritor emérito”.

Mesquita Neto, do jornal “A Gazeta” de Vitória/ES, em texto publicado na edição de 17 de janeiro de 1950, escreveu: “Lemos em “O PROGRESSO”, de Vila Velha, edição de anteontem, um artigo de Alberto Isaias Ramires, enviado do Rio, sobre o transpasse de Joaquim Laranjeira, dando na medida precisa a perda que o jornalismo fluminense ou, melhor dito, nacional vem de sofrer com a morte desse completo homem de imprensa”.

Concluiu Mesquita Neto dizendo: “Que as letras nacionais acabam de sofrer um grande abalo com o desaparecimento de Joaquim Laranjeira, não tenhamos dúvida. Mas os jornalistas desse teor estão ficando deslocados no mundo, porque o que se vê, na atualidade, é gente escrevendo pasquim, e este não precisa de jornalistas, bastando para isso, uns tantos salafrários semiletrados, um punhado de tipos e uns farrapos de papel”.

Já o jornal “Vossa Senhoria” de Belo Horizonte, edição de 26 de dezembro de 1949, publicou importante artigo atestando aos seus leitores: “Com a morte de Joaquim Laranjeira perdeu o jornalismo do interior do Brasil, uma das suas mais vigorosas expressões no sentido de bem informar e orientar o público com honestidade. Sua pena, sempre a serviço dos interesses da coletividade, foi altiva e desassombrada, porque, como jornalista nato, colocava, acima de tudo, o interesse do povo. E, seu jornal foi sempre, como ainda é, uma tribuna acessível aos defensores do bem comum. Assim, a morte do jornalista e escritor Joaquim Laranjeira, repercutiu com grande pesar entre os jornalistas de todos os quadrantes da pátria, já que tanto ele soube engrandecer a classe”.

Concluiu “Vossa Senhoria”: “Oxalá que sua alma descanse em paz nas alturas recebendo, na mansão celeste, o prêmio por ter sido bom e justo. Esta é a prece que, nós do “Vossa Senhoria”, a Deus formulamos à Joaquim Laranjeira que não morreu, porque se eternizou no coração de todos os jornalistas do Brasil’.

HOMENAGENS MARCARAM O CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO JORNALISTA E ESCRITOR

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Para marcar a passagem do centenário de nascimento de tão ilustre madalenense, através da Lei Municipal nº 807, de 20 de maio de 1997, de autoria do vereador Nestor Lopes, foi criada a “Semana Joaquim Laranjeira”, comemorada no período de 17 a 23 de novembro de 1997. A comemoração contou com solenidades na Câmara Municipal e na Casa da Cultura Professor Francisco Portugal Neves, exposição sobre a vida e obras do autor, concurso de redação, palestras e missa, quando também, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados ao povo e à cultura madalenense, foi batizada a principal Rua do Bairro Jardim Nova Madalena com o seu nome e o seu quadro fotográfico entronizado na Galeria de Honra da Câmara Municipal.

O menino que revolucionou a imprensa e a literatura madalenense

Como imaginar um garoto com apenas 13 anos de idade, início do Século XX, em uma cidadezinha do interior passando horas e mais horas sentado diante de uma escrivaninha redigindo os jornaizinhos que orgulhosamente distribuía aos seus embevecidos leitores? Por mais que queiramos encontrar palavras que possam resultar em reconhecimento fidedigno ao grande feito desse menino prodígio, que mais tarde se tornara, uma das maiores referências do jornalismo e da literatura fluminense, ainda assim não as encontraremos.

Não retratamos aqui a história sobre a vida e a obra de um simples escriba, mas de um devotado às letras que desde menino fazia do seu dom um verdadeiro sacerdócio no ofício de jornalista. Joaquim foi capaz de produzir com a sua pena outras penas, pois, ao escrever o jornal manuscrito demonstrava não ter pena dos seus próprios dedos, também não teve pena quando fez com que os seus conterrâneos chorassem de pena por terem de suportar, muito precocemente a sua falta e olha que não era uma ausência qualquer, mas a do maior e mais importante jornalista, escritor e historiador de Santa Maria Madalena de todos os tempos, nascido em 07 de agosto de 1897, batizado com o nome de Joaquim Baptista Laranjeira, filho de Pedro Pereira Baptista e Gertrudes Laranjeira Baptista e falecido em 22 de novembro de 1949.

Eis aqui um sucinto perfil desse magnânimo jornalista, escritor e historiador cuja história resulta em um legado de imensurável importância que pode e deve ser aproveitado em benefício da história e da cultura da terra que ele tanto amou.

Nestor Lopes – Serra News

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