Por que Gugu Liberato abriu o túmulo de Dercy Gonçalves em 2016?

Dercy faleceu com 101 anos de idade, vítima de uma pneumonia grave que a levou a óbito às 16h45m do dia 19 de julho de 2008, na cidade do Rio de Janeiro. A morte de Dercy Gonçalves causou comoção nacional e deixou milhões de fãs órfãos do seu talento, alegria e irreverência.

No ano de 1991, quando contava 84 anos de vida, após sofrer um acidente de carro na noite de 16 de janeiro daquele ano e pouco tempo depois ter sido operada às pressas no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, por causa de um câncer no estômago, Dercy lembrou-se de algo que não sabia dizer ao certo se havia sido um sonho ou alguma fantasia surgida em sua cabeça após ter feito uma visita ao cemitério dos Deuses, em Bangkok, Capital da Tailândia.

Dercy contava que nessa sua visão apareceu um anjo chamado Milarrel, dizendo que não tinha túmulo e que por isso precisava que ela construísse um túmulo para ele. Lembrava Dercy que só levou a sério essa coisa que ouviu do anjo Milarrel depois do acidente e do câncer e logo pensou: “deixa eu resolver isso rápido porque daqui a pouco quem não terá túmulo sou eu”. Também dizia que na dúvida se o túmulo seria realmente para Milarrel ou para ela, mandou construir com vaga para dois.

A bonita pirâmide, toda revestida de vidro e assentada sobre uma grande plataforma de mármore, está localizada na entrada do cemitério público da cidade e tornou-se importante ponto turístico de Santa Maria Madalena. Durante 17 anos Dercy, toda vez que estava na cidade, fazia questão de visitar o seu mausoléu e sempre dizia: “aqui será o meu palco eterno. E tem mais, vou virar milagreira! Vocês vão ver!”.

Fazer planos do próprio funeral parece coisa de doido né, mas isso para Dercy era a coisa mais natural do mundo, tanto assim, que fazia planos de como queria que fossem os seus funerais muito antes da sua morte. É bem verdade que essas ideias se tornaram mais frequentes nos seus últimos anos de vida. Depois do que aconteceu durante o seu velório e o sepultamento temos de reconhecer que os anjos disseram amém às suas vontades, pois, praticamente tudo o que dizia querer na sua despedida aconteceu.

Falava que queria que o seu corpo fosse velado na Assembleia Legislativa do Estado; que o esquife com o seu corpo fosse levado em cima de um caminhão do Corpo de Bombeiros; que fosse feriado no dia do seu enterro; que todo o comércio cerrasse suas portas na hora cortejo fúnebre; que a cidade estivesse em festa; que a banda de música saísse às ruas; que fosse tocado forró no seu velório e que a bateria da escola de samba Unidos do Viradouro estivesse presente no seu sepultamento para cantar o samba que embalou a sua passagem, de peitos à mostra, no Sambódromo, em 12 de fevereiro de 1991, com o tema-enredo: “Bravo, Bravíssimo, Dercy Gonçalves: o retrato de um povo”.

E assim aconteceu: o corpo de Dercy foi velado no saguão do Palácio Tiradentes, sede do Poder Legislativo do Estado do Rio, dia 20, de onde saiu sobre o caminhão do Corpo de Bombeiros, na parte da manhã do dia 21. Depois de ter atravessado a ponte Rio-Niterói o caixão foi transferido para uma limusine funerária para agilizar o translado até Madalena, onde chegou no final da tarde. O cortejo com o corpo da atriz entre Niterói e Santa Maria Madalena, por determinação do Presidente Lula, foi escoltado por 12 policiais batedores da Polícia Rodoviária Federal.

Durante o velório o cantor Pedro Garcia, amigo pessoal de Dercy, cantou e tocou músicas que marcaram a carreira da atriz. Às 11horas do dia 22, o féretro saiu do Clube Montanhês acompanhado por uma multidão jamais vista nas ruas de Madalena. Após a Missa de corpo presente na Igreja Matriz, celebrada pelo padre José Rial Ramos, o corpo da comediante foi sepultado às 13h.

Como idealizado pela própria artista, o comércio estava com as portas fechadas porque esse dia é feriado dedicado à Padroeira Santa Maria Madalena e como tradicionalmente acontece a Sociedade Musical Euterpe Madalenense percorreu as ruas da cidade, tendo estado presente ainda ao momento derradeiro para a execução do Hino Nacional Brasileiro, enquanto que a bateria da Unidos do Viradouro, como era desejo da comediante, apresentou o samba com que, pela primeira vez, no ano de 1991, se apresentara no Sambódromo pelo Grupo Especial do carnaval do Rio: “Bravo Bravíssimo, Dercy Gonçalves: O Retrato de um Povo!

Como um script de filme, tudo confabulou favoravelmente para que os planos fúnebres de Dercy, que contava até com pedido pra lá de inusitado: ser sepultada em pé, também foi atendido! Afirmava Dercy que uma mulher da sua envergadura não podia ficar deitada, nem mesmo após a morte.

Com o passar dos anos o que parecia ser segredo guardado debaixo de sete chaves passou a ser motivo de frequentes questionamentos por parte da população quanto a real posição do caixão da atriz Dercy Gonçalves dentro da tumba.

Muitos começaram a sugerir que o caixão havia sido retirado de sua posição vertical e colocado na horizontal, ao contrário do que a humorista havia pedido, enquanto que um outro tanto dizia não acreditar que alguém pudesse desrespeitar o desejo da imortal atriz.

Gugu Liberato desvenda mistério

Somente oito anos depois da morte de Dercy, a dúvida sobre posição que se encontrava o caixão dentro da sepultura, foi tirada. E quem decidiu colocar um ponto final nessa história foi o saudoso apresentador Gugu Liberato, que veio a Santa Maria Madalena gravar o seu primeiro programa em 2016, na TV Record.

O programa anunciava: “O fim de um mistério: é lenda ou verdade que a atriz foi sepultada em pé? Qual a posição do caixão que guarda os restos mortais da famosa atriz? O caixão teve sua posição mudada dentro do famoso jazigo em forma de pirâmide ou não? A ideia era descobrir se o esquife estaria de pé ou se as teorias dos moradores da cidade tinham algum fundamento. O material televisivo intrigou o Brasil e solucionou um mistério que há 8 anos anos era motivo de muita dúvida e polêmica.

Aconteceu que Gugu e o Brasil descobriram que, na verdade, o caixão com o corpo da atriz está em uma posição que não mais atende ao seu desejo: está na horizontal, cuja mudança, segundo Magdala Torres, aconteceu pelo fato de logo no dia seguinte ao sepultamento ter sido verificado que era preciso reabrir o túmulo para fazer a colocação de umas placas que haviam ficado pelo lado de fora. Que por causa dessa situação, resolveu pedir aos homens que estavam fazendo o serviço que acomodassem o caixão em posição horizontal, tendo justificado assim a sua decisão: “Fiquei com pena e mandei deitar o caixão e ainda falei: Vamos deixar ela descansar em paz”, justificou Magdala Torres, amiga pessoal de Dercy por mais de 20 anos.