Hoje vamos falar de um animal que tem sido observado em nossa região e tem chamado bastante atenção. Ele é um primata, um sagui de porte pequeno, que passa despercebido por olhos poucos atentos, por ser semelhantes a outros mais comuns. E para falarmos um pouco sobre esta espécie e sua importância, conversamos com Samir Mansur, que é coordenador dos guarda-parques do Parque Estadual do Desengano e um pesquisador sobre essa espécie de sagui. As informações adquiridas em nossa conversa, você confere a seguir.
O Callithrix aurita é conhecida pelo nome popular sagui-da-serra-escuro. Sua coloração varia entre tons negros e pardos, sendo visivelmente mais escuros do que os saguis-da-serra (C. flaviceps). Seu rosto é tipicamente escuro com uma máscara branca marcante responsável por apelidar a espécie com o como “Caveirinha”. Ele possui tufos na lateral da face, em tons brancos ou amarelados, remetendo mais uma vez a similaridade com os C. flaviceps. Sua cauda apresenta anéis que se alternam entre o preto e o cinza.
Essa espécie é endêmica do sudeste da Mata Atlântica, com concentração principalmente na região da Serra do Mar. Atualmente seu estado de conservação é crítico, principalmente pela perda do seu habitat por conta do alto grau de fragmentação do bioma, e por disputa de território com espécies invasoras como o sagui-de-tufo-branco (Callithrix jacchus) e o sagui-de-tufo-preto (Callithrix penicillata). Também pode ocorrer a hibridização entre as espécies, causando a perda da memória genética. Estima-se que a redução populacional dessa espécie é de aproximadamente 50% nos últimos 18 anos.
Existem poucos dados ecológicos e demográficos sobre esta espécie no estado do Rio de Janeiro, especialmente no Noroeste Fluminense. No entanto, grupos foram descobertos recentemente em vários fragmentos em quatro cidades próximas: Santa Maria Madalena, São Sebastião do Alto, Cantagalo e Cordeiro.
Esses grupos foram descobertos espontaneamente por Samir Mansur. O primeiro encontro foi durante um incêndio florestal em um fragmento florestal pertencente a Santa Maria Madalena em 2019, e desde então Samir começou a dar mais atenção à espécie, que já foi encontrada em outros fragmentos da cidade e em municípios vizinhos.
No total, já são mais de 14 pontos de encontro em 7 fragmentos distintos distribuídos entre os 4 municípios citados acima. Todos os pontos foram georreferenciados e foi realizada uma contagem de indivíduos avistados. Outra característica importante que vem sendo monitorada é a presença ou ausência das espécies invasoras, tendo sido encontrada apenas no município de Cordeiro até o momento.
Esses dados estão sendo usados para a produção de uma nota científica sobre a distribuição da espécie na região, e assim, ajudar na gestão e manejo, bem como em soluções para mitigar os impactos da expansão das espécies invasoras.
Estes dados e pesquisa mostram o quanto e importante esta espécie e o quão rica são as matas de nossa região. E por ter sido descoberta em Cordeiro, na Área de Proteção Ambiental Mata do Posto, por ser uma espécie importante para a preservação, ganhou título de mascote da APA Mata do Posto, tendo sua figura imortalizada no logo dela.
E você, já viu este sagui por aí? Caso o encontre por nossas matas, entre em contato conosco ou com o pesquisador Samir Mansur para contribuir com sua coleta de dados.
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