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O cantagalense Chapot-Prévost e o caso das meninas toracoxifópagas

Visitei a Fazenda São Clemente, localizada no distrito de Boa Sorte, município de Cantagalo, que pertencera a Francisco Clemente Pinto. Como muitas propriedades dos falidos barões do café da região serrana fluminense foi adquirida, em 1920, pelos Monnerat. Marcello Cardoso Monnerat, atual proprietário, é um advogado apaixonado por história. Segundo ele, existem “muitas histórias nas gavetas da São Clemente”. Vamos a uma delas baseada em um artigo de Álvaro Antônio Sagulo Borges de Aquino, Coordenador Executivo e de Comunicação Institucional do Projeto Fazenda São Clemente, em memória do nascimento do médico Eduardo Chapot-Prévost. Nascido em Cantagalo, em 25 de junho de 1864, Chapot-Prévost se graduou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, colando grau em 1885, defendendo a tese sobre “Formas Clínicas do Puerperismo Infeccioso e seu Tratamento”. Além da medicina, dedicou-se igualmente a carreira acadêmica.

Chapot Prevost foi nascido em Cantagalo
Chapot-Prévost foi nascido em Cantagalo

Em 30 de maio de 1900, Chapot-Prévost realiza uma cirurgia pela primeira vez na história da medicina, a separação das meninas toracoxifópagas, Maria e Rosalina, se tornando uma das mais ilustres e notórias personalidades da medicina brasileira. Nascidas em 21 de abril de 1893, em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, as irmãs ao atingirem sete anos de idade foram levadas pelos pais para o Rio de Janeiro, para uma consulta médica, tendo sido encaminhados ao Doutor Álvaro Ramos. Durante um ano, as meninas ficaram em observação. A primeira tentativa de operação das irmãs toracoxifópagas fracassou quando o médico constatou que não estavam ligadas apenas por músculos ou cartilagem. Nessa ocasião, foi consultado o médico e professor Eduardo Chapot-Prévost que acabou assumindo as pacientes.

Maria e Rosalina
Maria e Rosalina

Durante mais de um ano, as irmãs ficaram novamente em observação. Foram aplicados remédios em uma das irmãs a fim de verificar se a outra sentia os efeitos. Foi dessa forma que Chapot-Prévost concluiu que o órgão que as ligava era o fígado. Como não havia radiografia, foram necessários vários meses para descobrir se elas possuíam um único fígado ou não. Chapot-Prévost esculpiu em gesso, no tamanho natural, o modelo das irmãs toracoxifópagas. O engenhoso médico desenhou uma mesa especial para a realização da cirurgia, dividia em duas partes. Dessa forma, imediatamente depois de separadas atenderia a uma delas, enquanto os médicos assistentes se dedicariam à outra. Após realizar os mais minuciosos estudos sobre a operabilidade desse caso de toracoxifopagia, esgotando os métodos de investigação e exame possíveis, Chapot-Prévost criou processos para as várias fases da inovadora cirurgia. O procedimento cirúrgico foi realizado na Casa de Saúde de São Sebastião e a equipe era composta por 13 médicos.

Chapot Prevost realizou pela primeira vez na historia da medicina a separacao das meninas
Chapot-Prévost realizou pela primeira vez na história da medicina, a separação das meninas toracoxifópagas

A cirurgia ocorreu de forma satisfatória para gáudio de toda equipe. No entanto, Maria se recusava a se submeter a dieta que consistia tão somente na ingestão de caldos. A enfermeira, contrariando a orientação médica, lhe deu um prato com mingau de tapioca causando-lhe uma grave infecção intestinal. Faleceu cinco dias após a cirurgia vitimada por um quadro infeccioso que a medicina da época não dispunha de meios para debelar. Porém, a sobrevivência de Rosalina foi suficiente para atestar o êxito da cirurgia.

Imagens da cirurgia realizada em 30 de maio de 1900
Imagens da cirurgia realizada em 30 de maio de 1900

Eduardo Chapot-Prévost consagrou o Brasil com o caso das irmãs toracoxifópagas que serviu de tema a várias conferências médicas pelo mundo. Chapot-Prévost era casado com Laura Caminhoá e da união nasceu um único filho, falecido em tenra idade. Rosalina passou a morar com o médico que se tornou seu padrinho, sendo tratada como filha pelo casal. Eduardo Chapot-Prévost faleceu precocemente em 19 de outubro de 1907, aos 43 anos de idade. Nessa ocasião, Rosalina tinha 14 anos de idade. Rosalina se casou, teve seis filhos e viveu por mais de 80 anos. Pela força do destino, muitos documentos sobre o talentoso Chapot-Prévost integram o valioso acervo da Fazenda São Clemente.

Chapot Prevost e a esposa ao lado de Rosalina
Chapot-Prévost e a esposa ao lado de Rosalina

Janaína Botelho – Serra News

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