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Único sapateiro de Cantagalo fala sobre a profissão quase extinta

Único sapateiro de Cantagalo fala sobre a profissão quase extinta

O Dia do Sapateiro é comemorado em 25 de outubro e, nós do Serra News, trouxemos mais um artigo de excelência para vocês conferirem. A arte de fabricar sapatos surgiu a partir do momento em que o homem sentiu a necessidade de proteger seus pés, seja do frio, seja dos obstáculos do solo. A função do sapateiro é manusear botas, calçados, chinelos e calçados em geral, fabricando-os ou mesmo consertando-os.

Em Cantagalo, município da Região Serrana do Rio de Janeiro, uma sapataria sobrevive há mais de 45 anos na Rua Rodolfo Albino, no Centro. O Sr. João Baptista Stoduto Noronha, de 67 anos, conhecido como o Vascaíno mais famoso da cidade, é o único sapateiro de Cantagalo em exercício e ainda conserta diversos calçados na Sapataria Planalto, mantendo a profissão em movimento mesmo em tempos modernos.

História

No dia 24 de junho de 1953, nascia na cidade de Cantagalo, no interior do Rio de Janeiro, João Baptista Stoduto Noronha, filho de Jari Moreira de Noronha e Maria Stoduto. Aos 11 anos, o Sr João, começou a aprender a profissão de sapateiro, como aprendiz do Sr Antônio Ramos Braga, e se especializou com o Sr Francisco Jorge (vulgo Abdala).

joao sapateiro 2

O Sr. João trabalhava, desde muito novo, para ajudar no sustento de sua família, estudou até a 5ª série do ensino fundamental, pois não teve a oportunidade de continuar os estudos, uma vez que era responsável em ajudar financeiramente sua família.

Aos 23 anos, João Noronha casou-se com a Srª Sileia da Silva Noronha, e teve três filhos, Ana Paula da Silva Noronha, Fábio da Silva Noronha e Alinne da Silva Noronha, dando continuidade na sua profissão de sapateiro na cidade.

Sapataria

A Sapataria Planalto reside no mesmo lugar há mais de 45 anos, na Rua Rodolfo Albino, nº 62, Centro de Cantagalo – próximo ao Superthal. O Sr João Noronha se mantém desde então no mesmo endereço comercial e perdeu as contas de quantos sapatos já consertou ao longo dos últimos 45 anos no pequeno estabelecimento.

Sapataria Planalto - Cantagalo - RJ

“Milhares de pares, entre substituição de solas, meia sola, saltinhos e de engraxar sapatos sociais, para muitos doutores”. Ele também relata ao Serra News que não fabricam mais sapatos de couro como antigamente, pois foram substituídos por materiais sintéticos, que são praticamente descartáveis. João Noronha já fabricou vários chinelos femininos e sandálias masculinas, que na época eram recordes de vendas, com isso ajudava nas despesas de sua casa. “Hoje esses chinelos não estão mais na moda e a população prefere as Havaiannas”, disse ele.

Paixão

O Sr João Noronha relata que se apaixonou pela profissão, mesmo que tenha sido sua única oportunidade de mudar de vida, em vista do que ele vivia. Na época, como não teve oportunidade para estudar, o mesmo teve que se profissionalizar em alguma coisa para ser alguém na vida.

Sapataria Planalto - João Noronha sapateiro de Cantagalo - RJ

Ele relata que há anos atrás, no município de Cantagalo, tinha escolas profissionalizantes, e uma fundação chamada FEEM, dentre essas escolas tinha o curso de sapateiro, onde ele dava aula para adolescentes e ensinava um pouco do que havia aprendido durante esses anos de experiência. Anos depois, o prefeito da cidade resolveu doar o lugar onde funcionava essa fundação, para ser quadra de uma Escola de Samba.

O Sr João diz que até hoje ele atende não só a população de Cantagalo, como tem muitos clientes do Rio de Janeiro, Niterói, Cabo Frio, e de municípios vizinhos, que já acostumaram com os seus serviços. Segundo ele, o preço de cada reforma de calçado, bolsa entre outros itens varia, em média de R$ 5 a R$ 55 reais. “Nesta profissão há uma proximidade com o cliente. Muitas pessoas são meus clientes há décadas, e se eu mudar de lugar, eles vão onde eu estiver, pois sempre trabalhamos com agilidade, mas sem deixar de lado a qualidade.”

“Com essa profissão pude fazer amizades de todas as classes sociais, pois muitos clientes vêm pessoalmente até minha sapataria para falar comigo, bater um papo e jogar conversa fora, isso é muito gratificante para mim”, relata ele ao jornalista Iago Guimarães.

Tempos modernos

João Noronha, o único sapateiro de Cantagalo na atualidade, acha uma pena essa profissão estar Clientes do João Baptista Stoduto Noronha - Sapataria Planalto em Cantagalo - RJacabando, pois disse que daqui a pouco os sapatos serão descartáveis, uma vez que não acharão mais profissionais da área para a manutenção dos mesmos. “Hoje a nossa grande dificuldade está em conseguir material para o trabalho, mas sempre aparece um vendedor. Infelizmente nossa profissão está se extinguindo, ainda mais essa geração de informática que não tem o menor interesse nessa profissão. Além de não haver o interesse, hoje muito mais se prefere comprar um sapato novo ao invés de mandar consertar. Mesmo assim existem bastantes pessoas que consertam seus sapatos”, contou ele.

Profissão

No dia 25 de outubro é comemorado o Dia do Sapateiro. Quando surgiu a profissão de sapateiro, ela era bastante discriminada, sendo considerada menos relevante do que as profissões de curtidores e carniceiros, por exemplo. Porém, com o tempo, a profissão se tornou mais popular, o que despertou a necessidade de estabelecer um padrão na forma de fabricação de calçados entre os diversos sapateiros.

Único sapateiro de Cantagalo fala sobre a profissão quase extinta

Essa uniformização surgiu na Inglaterra, em 1305, quando o Rei Eduardo I decretou que a medida de uma polegada deveria equivaler a três grãos secos de cevada, estabelecendo uma medida padrão para a fabricação de calçados. A partir disso, os sapateiros passaram a fabricar calçados seguindo essa forma de medida. Um sapato de criança, por exemplo, que medisse treze grãos, recebia a medida padrão treze. Depois da uniformização inglesa, a padronização se tornou uma tendência mundial.

Atualmente, a procura por sapatos sob medida faz parte de um passado distante, em virtude do crescimento das indústrias especializadas em produções em massa. Hoje, a profissão do sapateiro limita-se, praticamente, a consertar sapatos, estando a fabricação artesanal quase completamente extinta. Porém, sempre há aqueles que procurem o artesão experiente em busca de um modelo único e especial, o que valoriza muito a peça e traz reconhecimento ao sábio trabalho do sapateiro profissional.

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