Manchas de óleo vão impactar meio ambiente por 20 anos na Região dos Lagos
Um ano após o maior desastre ambiental da costa brasileira, pescadores ainda enfrentam problemas de saúde e dificuldades para se manter. Relatório da Marinha sobre as manchas de óleo que apareceram no litoral foi enviado à PF com pelo menos 10 suspeitos. Pesquisadores afirmam que meio ambiente ainda sofrerá impactos pelas próximas duas décadas. O maior desastre ambiental da costa brasileira completou 1 ano no domingo, sem muitas respostas.
A Pastoral dos Pescadores afirma que, além da coceira nos olhos e na pele, quem vive do pescado ainda hoje sente dor de cabeça, tontura e falta de ar. A Secretária-executiva, Ormezita Barbosa, diz que a Fiocruz tem monitorado os impactos na saúde e que outro problema é a falta de dinheiro. A Pastoral afirma que 30% dos 65 mil pescadores registrados, que apareciam na lista oficial, não receberam os dois salários mínimos prometidos pelo governo. Quando as coisas pareciam voltar ao normal, veio a pandemia de coronavírus.
“A gente mapeou muitos casos de famílias que não receberam o auxílio emergencial do petróleo e não receberam o auxílio emergencial do coronavírus. Você imagina o acúmulo de problemas… A necessidade de comprar alimentos, de comprar remédios. As pessoas ficaram sem essa condição.”
A Marinha concluiu a primeira fase das investigações sem indicar um culpado. O relatório foi enviado à Polícia Federal, com uma lista de navios suspeitos. A Marinha afirmou que o óleo é mesmo de origem venezuelana e teria sido lançado de uma embarcação em julho do ano passado, 40 dias antes da mancha no litoral da Paraíba.
O Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha diz que as informações vão ajudar a Polícia Federal a explicar o que aconteceu. O Contra-almirante Lampert não informou quantos navios são suspeitos, mas disse que a lista passou de milhares para menos de 10.
“A avaliação da dispersão das manchas de óleo, de como esse óleo chega ao Brasil, tudo isso levou a conclusões de que esse óleo foi lançado a leste do Brasil, a uma faixa de cerca de 700 km. A partir daí, os navios que trafegaram naquela região, em determinado período, foram navios de interesse na investigação. Essas conclusões foram entregues à Polícia Federal e essa lista aponta, ordenadamente, algumas hipóteses, probabilidades e alguns suspeitos.”
Em novembro, a Polícia Federal indicou que o navio grego Boubulina era o principal suspeito do crime, mas um mês depois a Marinha afirmou que não tinha provas contra a embarcação. Na semana passada, a Marinha também descartou a possibilidade levantada pela Universidade Federal de Alagoas, de que o óleo pudesse ter vindo do Golfo da Guiné, na costa da África. Procurada pela CBN, a PF afirmou que o inquérito ainda está em andamento.
As manchas de óleo atingiu 11 estados brasileiros e continua aparecendo até hoje. No mês passado, a Marinha recolheu vestígios em Alagoas, Bahia, Espírito Santo e Rio Grande do Norte. Tudo indica que o material estava parado, no fundo do oceano. O presidente do Instituto Bioma Brasil, Clemente Coelho Jr., afirma que o material está na natureza e que a contaminação deve durar pelo menos duas décadas.
“Muitos fragmentos, muitas manchas pequenas, ainda nas praias. Muita coisa se enterrou, muita coisa ficou escondida nos corais e reaparece. Fragmentos minúsculos, do tamanho de grãos de areia ou até menores, foram observados nas praias e dentro do trato digestivo de pequenos organismos, pequenos crustáceos. O material está presente. Como um desastre desta monta não possui um culpado, não se descobre quem causou esse dano para essa região toda?”
O óleo sujou praticamente metade do litoral, do Maranhão ao Rio de Janeiro, e 5 mil toneladas foram recolhidas desde agosto do ano passado. A CBN procurou o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente, mas nenhum se manifestou.
Fonte: Rádio CBN