Os amigos João Vitor de Mello e Raphael Louzano, de Cordeiro-RJ, uniram suas paixões por abelhas, para estudar, cultivar e preservar abelhas nativas sem ferrão. Desse interesse surgiu a ideia da criação de espécies para sua preservação e, consequentemente, produção de cera e mel. Inicialmente, a produção é para consumo próprio.
A partir dessa ideal, decidiram fazer um curso básico de apicultura ministrado pelo SENAR e assim o projeto tomou os primeiros rumos. Nesse curso, eles aprenderam sobre as abelhas com ferrão, que foi o ponta pé para a ideia inicial começar a ganhar corpo de projeto.
A partir do aprendizado no curso, tomaram como foco principal a preservação das abelhas nativas sem ferrão. Assim, passaram a pesquisar sobre os produtos por elas cultivados, como atraí-las e cultivá-las. Ao partirem para a prática tiveram a grata surpresa de descobrir, em pouco tempo, vários locais de ocorrência dessas abelhas nativas no município de Cordeiro, na Região Serrana, uma vez que esses seres andam ameaçados.
Para começar de fato o cultivo das abelhas, identificaram locais de ninhos e colocaram iscas para capturá-las, sem interferência no seu clico, mas aguardando o momento de saída para acasalamento e posteriormente procura de local para novos ninhos. O uso das iscas as atraíram e, só então, dai eles as recolheram e colocaram nas caixas de cultivos, ambos feitas manualmente pelos amigos.
As iscas ou armadilhas, foram confeccionadas com garrafa pet, com um pequeno furo e neste furo foi colocado um toco de cabo de vassoura com um pequeno furo que permite a passagem da abelha. A garrafa foi revestida de jornal para deixa-la termicamente apropriada e ainda por cima revestida com uma lona preta, para que não haja passagem de luz, simulando um “buraco” natural onde as abelhas procurariam para fazer novas colmeias. No interior da armadilha foram colocados própolis e pequenos pedaços de cera para atração das abelhas. Tais armadilhas são fixadas em locais próximos de onde ocorrem alguma colmeia dessas abelhas, e podem ficar lá por até um mês ou até que elas sejam atraídas, naturalmente. Vale lembrar que, não há em hipótese alguma, a retirada direta dessas abelhas de seu local original, ou seja, o processo natural, quando elas saem para repovoar e procurar novos locais pra ninhos. É preciso esperar, nesse processo, que alguma abelha acabe escolhendo a armadilha
Depois que as abelhas estão nesta amarilha, são levadas para as caixas apropriadas para o cultivo de abelhas, Estas caixas chamadas de caixas racionais é feita com um suporte, uma placa inferior, um ninho, caixas menores chamadas de melgueiras e uma tampa. A parte inferior da colmeia é separada das partes superiores por uma grade excluidora. Assim podem cria-las e isso facilita o seu manuseio.
Vale ressaltar que a preservação das abelhas é de muito importante, para a polinização das plantas, inclusive as alimentícias. O ponto importante é que, mesmo nas caixas, as abelhas podem sair para polinizar por aí, pois o seu cultivo não interfere na sua atuação ambiental .
Abelhas nativas
As chamadas abelhas nativas, indígenas ou sociais são as abelhas que já existiam aqui, antes mesmo da introdução da estrangeira com ferrão. E estas prozem mel, cera e própolis de qualidade, mas mesmo assim, ainda vemos a preferência pelo cultivo das espécies consideradas comerciais, mesmo com ferrões, que é o caso da abelha africana.
Algumas das espécies nativas que podem ser cultivadas com o objetivo de sua preservação e equilíbrio ambiental são, entre outras:
- Jataí (Tetragonisca angustula)
- Mirim-preguiça (Friesella schrottkyi)
- Abelha cachorro – Trigona fulviventris Guérin
- Abelha limão / Iratim – Lestrimelitta limao (Smith, 1863)
- Irai – Nannotrigona testaceicornis (Lepeletier)
- jatai da terra – Paratrigona subnuda (Moure)
- Lambe olhos – Leurotrigona muelleri (Friese, 1900)
- Boca de sapo- Partamona helleri (Friese, 1900)
Os amigos cultivadores de abelhas já realizaram dois resgates, de uma colmeia de mirim-preguiça (Friesella schrottkyi) em uma casa, que estava no vão dá pilastra da escada da varanda, um local cimentado, e de uma colmeia de jataí (Tetragonisca angustula) de um tronco vazado por cima (o que as colocavam em risco pela chuva e ação de predadores). Mas vale ressaltar que o resgate só deve acontecer em caso extremo, como naqueles em onde a ação humana pode interferir na sobrevivência da colmeia. Mas caso isso seja necessário, pode contatar com o Zécolmelis, que atuarão com responsabilidade..
Gostaria de agradecer aos amigos João Vitor e Raphael , pelas informações e fotos publicadas aqui. Gostaria de abrir o espaço da coluna para quem souber, participar ou atuar em algum projeto de cunho ambiental. Será de imensa satisfação, escrever sobre ele.
“Mais 3 achados, um do lado do outro nas caixas de luz. Dois mirins preguiça e um Jatai. As abelhas nativas, sem ferrão, não fazem mal, fazem mel! Preserve esses seres tão importantes!” (retirado do Instagram do projeto)
- Coluna anterior: Gavião-carrapateiro (Milvago chimachima)
Fotos: João Vitor e Raphael Louzano
Mais informações no Instagram Zé Colmélis.